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Igreja ortodoxa acena à católica

Em Moscovo, o patriarca ortodoxo russo, Alexis II, enviou uma carta ao Papa João Paulo II na qual exprime a esperança de que venham a ser restaurados os laços de paz entre as duas igrejas.

A notícia foi divulgada pelo jornal Izvestia, que cita o arcebispo de Moscovo. Na entrevista Tadeus Kindrusiewick refere textualmente que «a comunicação entre as duas igrejas católica e ortodoxa, é hoje um passo muito importante, particularmente para os católicos russos».

«Penso que esta carta é um passo muito positivo que poderá abrir a via de uma nova fase nas nossas relações. Os chefes das nossas duas igrejas trocam anualmente correspondência, mas desta vez a mensagem do patriarca ortodoxo é muito importante», disse o arcebispo, que pediu na terça-feira, ao Vaticano para «mudar a política na Rússia».

Bispo de Setúbal «contente»

A TSF ouviu D.Manuel Martins sobre esta nova postura das duas igrejas. O bispo e mérito de Setúbal, agora radicado no Porto, considera que é um motivo de grande «contentamento».

«Estamos a descobrir, já devíamos ter descoberto há mais tempo, o papel que as religiões têm na aproximação dos povos. A grande dificuldade até ao presente vem dos ortodoxos, de uma forma especial dos ortodoxos russos. Sabemos que a divisão provém de uma diferença teológica, mas que no fundo e em boa verdade, é uma diferença política na religião. Esta atitude, esta posição do patriarca ortodoxo é de bons augúrios, oxalá que a saibamos receber, ler, interiorizar e dar também os passos necessários».

A ponte dos católicos

O bispo de Setúbal reconhece também que os católicos por vezes gostam mais que se aproximem deles, do que serem os primeiros a dar o passo.

«Por mais paradoxal que pareça foi um papa que está canalizado e praticamente do nosso tempo, que disse que as pontes não se fizeram para nós irmos de cá para lá, mas para eles virem de lá para cá, oxalá isso se quebre, para que realmente se restabeleça a paz entre estas duas igreja», acrescentou.

Questão difícil de resolver

Sobre a deterioração que existiu entre as duas igrejas em Fevereiro deste ano, quando João Paulo II decidiu criar quatro novas dioceses na Rússia, Don Manuel Martins considera que é uma questão polémica.

«Neste momento que estamos a viver é muito difícil aceitar a criação de dioceses, porque elas têm como finalidade evangelizar, anunciar Jesus Cristo e por fim tornar essas pessoas eventualmente evangelizadas membros da Igreja Católica», disse.

«Os ortodoxos não gostam porque chamam a isso proselitismo. É realmente muito difícil saber como é que as igrejas se vão comportar, se cada se deve restringir fieis que já tem, deixando que cada uma das outras viva com os fiéis que também tem ou se realmente não teremos obrigação de fazer a proposta pura do evangelho de Jesus Cristo», acrescentou.

Para o bispo o mais importante é «viver em paz e no respeito soberano por todas as pessoas, com as opções que se fazem, mas nós não estamos e eles também não, se são sinceros na sua fé ,dispensados de fazer as propostas que julgamos serem as verdadeiras de Jesus Cristo, em clima de diálogo fraternal».