Desporto

A vida corriqueira de Pizzi, Jonas e Seferovic: escrever e carimbar cartas

Mário Cruz/Lusa

Benfica começou o campeonato com uma vitória frente ao Sp. Braga de Abel. Seferovic, Jonas e Salvio marcaram para os da casa, enquanto Hassan reduziu antes do intervalo.

O cronómetro fazia o seu bailado habitual e exibia o número 30. Pizzi, na sua tarefa corriqueira, naquele jeito de ser carteiro, lançou mais uma carta escrita com ternura para a área do Sp. Braga. Jonas, o homem que mete o carimbo e leva a carta ao destino, percebeu que haveria um problema no circuito habitual e esperou. Paciente, observou a antiaérea bracarense enviar o envelope para o céu, meio sem jeito. O brasileiro, homem com olho, posicionou-se. Olhou para cima, olhou para a caixa de correio, voltou a olhar para cima. "Pum!", ouviu-se, numa pancada seca: carimbo e envio. A rede bailava e o brasileiro imitava-a, 2-0. Foi um dos bons momentos deste Benfica-Braga, que sorriu aos encarnados: 3-1.

O jogo começou com gás, com energia. Houve quase sempre bastante intensidade. Ninguém tinha nada a perder e, assim, o futebol também não. As duas equipas queriam a bola, queriam chutar, recuperar rápido, correr e combinar. Na ala esquerda, Rui Vitória foi obrigado a trocar Grimaldo por Eliseu. O lateral correspondeu, embora com menos ginga do que o espanhol, é certo. Do outro lado, André Almeida fez mais do que o "cumpriu" que lhe costuma ser colado. Fejsa andava na sua correria habitual, como quem anda atrasado mas que chega sempre 15 minutos antes da hora. Jonas e Seferovic parecem estar a montar um bromance a sério.

Bastaram 14 minutos para ganhar forma a nova sociedade do ataque. Jonas, vagabundo como gosta, descobriu espaço na esquerda e meteu-se olhos nos olhos com Ricardo Esgaio. Tocou, desviou, tocou e, num gesto complicado, cruzou a bola que parecia estar ali entre os pés. Quase que precisava de usar uma colher para ela sair do sítio. Saiu e chegou ao segundo poste, onde estava Seferovic, esticado, em carrinho, a ganhar as costas a Raúl, 1-0. Mas sejamos justos: antes disto, o Braga esteve muito perto de se colocar na frente do marcador. Primeiro, com uma bela arrancada de Fransérgio e depois com uma boa combinação entre Vukcevic e Ricardo Horta, o irmão de André que joga no Benfica. Aos 30 minutos desenrolou-se a lengalenga que a TSF já contou no arranque do texto (2-0). Depois, veio a água fria...

Foi preciso esperar quase 22 anos para voltar-se a ver um Hassan com queda para o golo a marcar na Luz. Estávamos em setembro de 1995. Ricardo Gomes, Preud'Homme, Valdo, João Pinto e companhia recebiam uma das grandes equipas do campeonato. O Vitória de Guimarães tinha craques como Zahovic, Capucho, Vítor Paneira e Gilmar. Vítor Oliveira, o atual treinador do Portimonense, era o treinador. Hassan Nader, o marroquino que era mais feliz com o mítico Paco Fortes, marcou o único golo dos lisboetas: 1-1. Hassan, o do Braga, marcou aos 42', deixando tudo em aberto para a segunda parte (2-1). Foi um belo golo do avançado, depois de excelente abertura de Esgaio (Jardel ficou nas "covas"): picou a bola quando Varela fez a mancha. Os visitantes chegaram ao intervalo com 51% de posse de bola; já o Benfica ganhava nos remates realizados dentro da área (7 vs. 4) e em ataques (24 vs. 14). Os dados podem sugerir mais vertigem da equipa de Rui Vitória. Mas podem também ser pontuais.

A pedalada manteve-se no segundo tempo. Salvio continuava nas suas correrias, que muitas vezes têm um desfecho infeliz (ainda assim, festejou o 3-1, aos 57'). A coragem nem sempre é premiada. Esgaio e Fransérgio continuavam bem, em jogo. No Benfica, Jonas é rei do jogo, pois funciona como João Vieira Pinto 2.0, ocupando os lugares que quer, dominando o relógio como ninguém.

Seferovic continua a pedalar. Não para a Volta a Portugal, que a TSF também acompanha com o jornalista Rui Lavaredas no terreno, mas sim para cair no goto dos adeptos do Benfica. É que Seferovic é tudo o que o comum dos mortais gosta: não encolhe ombros e tem remate fácil.