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Cinco anos na rota da cultura mundial

A 2 de Dezembro de 1998, na 22ª Sessão do Comité do Património Mundial da UNESCO, em Quioto, no Japão, as gravuras rupestres do Vale do Côa foram classificadas como património da humanidade.

O reconhecimento do seu valor pôs um ponto final definitivo à «guerra» que dividiu arqueólogos e defensores da construção de uma barragem em Foz Côa e que mobilizou todo o país.

Passados cinco anos, o projecto já deu alguns passos, mas ainda tem muitos outros para dar. A população de Foz Côa foi obrigada a esquecer a construção de barragem, que via como um sinal de progresso, mas conseguiu por a sua região no mapa da história mundial.

Até à descoberta das gravuras rupestres de Foz Côa, que datam do Paleolítico, há cerca de 20 mil anos, pensava-se que este tipo de manifestações estava confinado a espaços interiores.

Provavelmente, esta ideia devia-se ao facto de muitas das representações feitas no exterior não terem chegado até nós por motivos de conservação. A descoberta obrigou a rescrever o que se conhecia sobre este período em todo o mundo.

Neste momento, os trabalhos de investigação da região continuam a bom ritmo, já tendo sido identificadas milhares de gravuras, numa extensão de 17 quilómetros, o que constituí a maior reserva de arte paleolítica ao ar livre conhecida no mundo.

O museu adiado

Desde 1996, as gravuras estão disponíveis para o público em geral, em visitas organizadas pelo Parque Arqueológico do Vale do Côa (PAVC), criado para o efeito.

A faltar está a construção de um museu prometida há vários anos, mas cujo processo tem sofrido sucessivos atrasos. O projecto foi abandonado pelo Governo de Durão Barroso, que considerou existirem defeitos no que foi estabelecido pelo anterior executivo. Só agora vai ser lançado um concurso do projecto para o novo museu.

O arquitecto Fernando Maia Pinto, director do PAVC, explicou à TSF Online a importância desta obra.

«Para explicarmos esta arte, e até para fazermos o enquadramento desse começo de arte, precisamos do museu. A sua função não é exibir as peças, a parte material, mas sim fazer o enquadramento e a recepção das pessoas que vão ver uma galeria de arte ao ar livre com 17 quilómetros», clarificou.

Além disso, «permite um fluxo maior de turismo, que é o motor de arranque de toda uma indústria turística».

Actualmente, as visitas estão limitadas a pequenos grupos de oito pessoas, que são conduzidos em viaturas todo-o-terreno por guias especialmente formados para o efeito. Esta limitação obriga a uma média de 20 mil visitantes por ano, um número que Fernando Maia Pinto gostava de ver aumentado.

«Ainda há muita coisa para fazer, mas a classificação ajudou imenso. O fluxo estrangeiro está a aumentar ao contrário do nacional», adiantou.

Um projecto para o futuro

Independentemente dos projectos que ainda estão por concretizar, as gravuras rupestres de Foz Côa dificilmente serão mais um museu ou mais um percurso aconselhado no roteiro turístico de Portugal.

«O importante disto tudo é a própria arte e o próprio princípio que levou à construção do parque estar cada vez mais sólido. O património mundial vai ganhar cada vez mais importância no panorama nacional. É um processo imparável», defendeu o director do PAVC, Fernando Maia Pinto.

«Estou confiante que não vai perder o valor. Isto nunca vai ser uma curiosidade de arqueólogos, vai ter cada vez mais importância cultural num país muito antigo, como o nosso povoado já há milhões de anos por sapiens sapiens», concluiu.

As perspectivas são optimistas, mas a verdade é que passados cinco anos da atribuição de classificação de património da humanidade Portugal tem ainda muito a fazer para atingir as expectativas criadas nesta data.

A construção do Museu é apontada pelos responsáveis do PAVC como indispensável para o desenvolvimento do projecto, mas faltam também estradas e hotéis que recebam quem se desloca a Foz Côa.

Esta seria certamente uma forma de promover a cultura portuguesa, neste caso única no mundo, mas também de corresponder às expectativas do povo de Foz Côa, que vê adiado o sonho de desenvolvimento da região.

Redação