Os índios Waimiri Atroari, da Amazónia, concluíram domingo dois meses de comemorações pelo nascimento do milésimo membro da etnia. Durante duas décadas, estes índios estiveram em perigo de extinção.
A criança, a quem foi dado o nome de Lawyraky (Lutador), simboliza o fim da ameaça de extinção que pairou sobre os Waimiri Atroari durante duas décadas.
A festa, que decorreu na aldeia Yawara, onde a criança nasceu a 30 de Setembro, prolongou-se por três dias seguidos com danças e cantos.
Os Waimiri Atroari eram cerca de três mil em 1969, mas estiveram à beira da extinção nas décadas de 1970 e 1980, com uma taxa de mortalidade de 20 por cento ao ano.
Este problema ocorreu na sequência da implementação nos estados do Amazonas e Roraima, de projectos como a estrada BR 174 (entre Manaus e Boa Vista), a Mineração Taboca e a central hidroeléctrica de Balbina, que causaram um devastador impacto em todo o habitat da etnia.
Em 1987, um censo da Fundação Nacional do Índio (FUNAI) concluiu que só havia 374 Waimiri Atroari, espalhados por sete aldeias e numa situação muito difícil.
Os índios eram dizimados nomeadamente por garimpeiros, caçadores e pescadores, assim como por epidemias de sarampo, malária e gripe.
A situação começou a mudar com a demarcação em 1987 de uma área de reserva de 2,5 milhões de hectares e a criação, em 1988, do Programa Waimiri Atroari, com acções múltiplas visando a preservação da etnia e da sua cultura, numa iniciativa do antropólogo Porfírio Carvalho com a cooperação da FUNAI e da companhia Centrais Elétricas do Norte do Brasil.
Quinze anos após a implementação do programa, que deverá prosseguir até 2013, os Waimiri Atroari desfrutam hoje de melhores condições de vida, em comparação tanto com as restantes etnias indígenas do Brasil, como com a população não-índia do interior da Amazónia.
O seu índice de crescimento atingiu no final de Setembro a taxa de 6,05 por cento ao ano, uma das maiores do mundo, e o número de aldeias aumentou para 19.
A Terra Indígena Waimiri Atroari está demarcada, sem invasores e ecologicamente equilibrada, o sistema de saúde funciona, o sistema escolar já é parcialmente conduzido pelos membros da etnia e as festas tradicionais voltaram.
Antes dos portugueses havia mil povos indígenas
Calcula-se que, antes da chegada dos portugueses em 1500, havia mais de mil etnias indígenas no Brasil, com uma população de entre dois a quatro milhões de pessoas.
Actualmente (com base no Censo de 2000), são 218 etnias, que falam mais de 180 línguas e dialectos diferentes e constituem uma população de cerca de 701 mil pessoas (0,4 por cento do total dos habitantes do Brasil), na sua maioria distribuída por milhares de aldeias em 614 Terras Indígenas de Norte a Sul do país.
No entanto, em 2002, além da população indígena identificada oficialmente, foi registada a presença de grupos isolados de índios ainda não contactados pela civilização ocidental.
Os vários povos identificados estão presentes em quase todo o Brasil, excepto no Distrito Federal de Brasília e nos estados do Piauí e Rio Grande do Norte.
De acordo com o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Amazonas é o estado onde se concentra a maior população indígena, com cerca de 120 mil índios (17 por cento do total), seguido de São Paulo e Mato Grosso do Sul.