O nome de José Carreira saltou para a ribalta a 21 de Abril de 1989, quando liderou uma manifestação de polícias no Terreiro do Paço, dispersa pela Polícia de Intervenção à bastonada, com cães e canhões de água.
A expressão «secos e molhados» nasceu desse dia, assinalando a divisão dos polícias na sua luta pela criação de um sindicato.
Vindo da indústria têxtil de Mira d´Aire, onde começou a trabalhar aos 12 anos, José Carreira entrou em finais da década de 70 na Escola de Polícia.
Convidado a participar em algumas reuniões pró-sindicalização, o jovem Carreira defendia também a necessidade de uma folga semanal e a desmilitarização da PSP.
Em 1982 foi ao Ministério do Emprego apresentar o estatuto do sindicato para registo, mas só em 1989 o movimento pró-associação sindical da PSP levaria o empurrão definitivo.
Em Fevereiro desse ano José Carreira, com apenas 33 anos, é eleito por unanimidade para o cargo de coordenador nacional da associação sindical da PSP.
Dois meses depois, os polícias marcaram uma manifestação para 21 de Abril de 1989 e decidiram descer a pé a Voz do Operário até ao Ministério da Administração Interna, na Praça do Comercio, Lisboa.
O ministro não os recebeu e o encontro acabou por provocar 20 feridos e uma corrida às inscrições na associação sindical da polícia, que só veio a ser registada como Associação Sócio-Profissional da Polícia (ASPP) em Dezembro de 1989, nove anos depois de ter sido criada.
Em Fevereiro de 1990, a Assembleia da República promulgou a lei que reconheceria aos polícias o direito à associação sindical.
Sucedem-se as manifestações, as greves e as multas, centenas de polícias repetem o percurso da Voz do Operário à Praça do Comércio, mantendo as mesmas reivindicações.
Sem consultar a PSP, o então ministro da Administração Interna Dias Loureiro anuncia a sua reestruturação.
José Carreira faz criticas publicas a esta reestruturação, acabando o comando geral da PSP por recomendar a sua aposentação compulsiva e o ministro da administração interna por optar pela pena de suspensão.
Com mais de 10 anos na presidência da maior associação de polícia, José Carreira decidiu abandonar em 1998 aquele cargo, por motivos de saúde, revelando gratidão pelos «muitos secos que aderiram à ASPP e se juntaram à luta profissional».