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Investigadores falam em desigualdades sociais

Vários estudos concluem que o sistema de ensino em Portugal agrava os processos de desigualdade social. Estes estudos, que serão apresentados esta quarta-feira no ISCTE, falam em discriminação por escolas, turmas e vias de ensino.

Vários estudos que serão apresentados esta quarta-feira no Instituto Superior de Ciências do Trabalho e da Empresa (ISCTE) concluem que o sistema de ensino em Portugal discrimina os alunos por escolas, turmas e vias de ensino, agravando assim os processos de desigualdade social.

A divisão de turma segundo o desempenho escolar e a origem social dos alunos e a selecção de estudantes definida com base nestes critérios por parte de escolas localizadas a pouca distância umas das outras foram realidades identificadas pelos investigadores que entendem que isto contribuir para a "guetização" social.

Num destes estudos que foi realizado em 2005, foram analisadas quatro escolas públicas localizadas na zona Norte de Lisboa, entre o Lumiar, Carnide e Telheiras, que evidenciam estas diferenças.

Numa destas escolas, os estudantes pertencem maioritariamente a classes sociais elevadas, apresentam bom desempenho escolar e beneficiam de equipamentos novos, ao passo que noutra os alunos são de classes desfavorecidas, registam altas taxas de reprovação e usufruem de equipamentos escolares degradados.

Na escola com alunos maioritariamente pertencentes a classes mais favorecidas, a taxa de alunos que nunca reprovaram situa-se nos 82 por cento, ao passo que na outra escola está taxa desce para os 33 por cento.

Em declarações à agência Lusa, o investigador Pedro Abrantes, com base neste estudo, conclui assim que «há escolas de elite e outras de crianças quase marginalizadas».

«Toda a gente quer pôr os filhos nas escolas com melhores alunos e essas acabam por ter mais candidatos do que vagas, o que lhes permite seleccionar os estudantes e excluir os repetentes ou os provenientes de um bairro social, por exemplo», acrescentou.

Uma outra pesquisa, esta realizada em 2001, tendo por base o exemplo de uma escola de um bairro desfavorecido do concelho da Amadora, concluiu que alunos de classe média com trajectórias escolares de excelência eram agrupados nas mesmas turmas.

Contudo, estudantes provenientes de um bairro social e com um fraco desempenho social eram agrupados noutras turmas, acrescenta este estudo, que detectou assim factores de desigualdade.

Pedro Abrantes adiantou que de facto a escola pública acolhe todos, ao contrário do que acontecia nos anos 70 e 80, quando a maior parte dos estudantes não frequentava aulas para além do 1º Ciclo, mas fá-lo «de uma forma muito diferenciada».

«Os estudos apontam claramente para uma evolução da 'exclusão da escola' para a 'exclusão na escola'», acrescenta este investigador responsável pelo painel «Diversidade e Desigualdade nas Escolas».

Já no que diz respeito à violência nas escolas, os investigadores concluem que o fenómeno «não ocorre em mais quantidade nas escolas onde existe mais insucesso escolar ou com maior diversidade cultural e étnica».

Redação