Novas ondas de calor, aumento das temperaturas, degelo e subida do nível do mar são algumas das previsões do painel científico das Nações Unidas para as alterações climáticas, que agrava o grau de responsabilidade humana no seu último relatório.
O planeta está a aquecer de forma inegável e o homem tem grande parte da culpa, é a principal conclusão do relatório que vai ser divulgado no início de 2007 e cujo esboço é hoje antecipado pelo jornal espanhol El Pais.
Em parte, o aquecimento é já inevitável e o nível do mar vai continuar a subir durante mais de um século, mesmo que hoje se conseguissem eliminar as emissões de gases com efeito de estufa (GEE).
Este é o resumo do próximo relatório do Painel Intergovernamental para as Alterações Climáticas (IPCC na sigla em inglês), que reúne um grupo de mais de 2.500 cientistas que vão apresentar no início de 2007 as suas conclusões sobre o aquecimento global.
O relatório, o quarto emitido por este organismo, aumenta o grau de precisão do conhecimento relativo às alterações climáticas e o seu grau de atribuição ao homem, relativamente ao último relatório, de 2001.
A concentração actual de GEE na atmosfera é a maior em 650 mil anos. Os modelos prevêem um aumento da temperatura de três graus em apenas um século, sem excluir subidas de mais de 4,5 graus.
É muito improvável que o aquecimento observado se deva à variabilidade do clima, sublinha o documento.
O relatório do IPCC supõe um mínimo denominador comum científico sobre o aquecimento. A redacção final do texto pode mudar na reunião de Paris, de 29 de Janeiro e 01 de Fevereiro de 2007, quando serão apresentadas as conclusões do painel.
O que pode mudar, sobretudo, é o resumo para políticos, que é aprovado frase a frase, já que os governos medem cada palavra.
O relatório das bases científicas do aquecimento, o primeiro e o mais importante (existem outros dois, sobre o impacto no planeta e tecnologias de mitigação) está pronto e já foi enviado pelas Nações Unidas a um grupo seleccionado de especialistas e aos governos para leitura.
Temperatura média está a aumentar desde 1850
O relatório destaca que 2005 e 1998 foram os anos mais quentes desde que existem registos e que seis dos sete anos mais quentes de sempre ocorreram desde 2001.
A temperatura média da superfície aumentou desde 1850. As observações do oceano, da atmosfera, a neve o gelo mostram dados consentâneos com o aquecimento global.
A temperatura do ar nas zonas terrestres aumentou o dobro da do oceano desde 1979. A temperatura do oceano a grandes profundidades também aumentou desde 1955, refere o esboço de relatório citado pelo El Pais.
O estudo apresenta também dados sobre a redução de neve no mundo: o derretimento dos glaciares fez subir o nível do mar cerca de 0,5 milímetros ao ano entre 1961 e 2003 e 0,8 entre 1993 e 2003.
O Ártico perde em cada década, desde 1978, 7,4 por cento da sua superfície gelada no Verão.
Uma vez que existe a certeza do aquecimento, os cientistas passam pela difícil tarefa de atribuir as causas.
E a principal causa são os GEE, sobretudo o dióxido de carbono, mas também o metano ou os óxidos de nitrogénio que se libertam durante a queima de carvão, petróleo ou gás.