O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa, D. Carlos Azevedo, considerou que a Igreja continua a oferecer «produtos fora de moda que não correspondem às pessoas que temos diante de nós». Ana Vicente, da Movimento Nós Somos Igreja, concorda com esta ideia.
O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa reconheceu que a Igreja não se está a adequar às pessoas que tem no seu seio e que estas vão à missa «sisudas» e «com cara de Sexta-feira Santa».
«Continuamos a oferecer, para utilizar uma linguagem económica, produtos que estão fora de moda, fora de prazo e que não correspondem às pessoas que temos diante de nós», afirmou D. Carlos Azevedo.
Este responsável pela Igreja Católica em Portugal mostrou-se ainda convicto de que as palavras do Papa Bento XVI sobre a igreja em Portugal não foram um “puxão de orelhas”.
«No fundo, o Papa comungou com a nossa preocupação de uma grande mutação cultural que acontece na sociedade portuguesa, dos níveis da prática dominical e da escassez de clero», acrescentou.
Para D. Carlos Azevedo, estas mudanças «obrigam a que olhemos para a realidade com uma nova mentalidade e nos organizemos doutra maneira».
O secretário da Conferência Episcopal Portuguesa explicou ainda que Bento XVI «não deu receitas», mas que «estava solidário com a nossa posição e certamente que nos incentivou a buscar formas e a não ficarmos na análise», uma conclusão que tirou das palavras do Sumo Pontífice.
Também Ana Vicente, do Movimento Nós Somos Igreja, defende que o modelo da Igreja Católica em Portugal não é atractivo, uma vez que esta é «extremamente rígida».
Esta responsável do Movimento Nós Somos Igreja defendeu ainda o casamento de padres e a admissão das mulheres no sacerdócio, mas não por haver 'falta' de padres».
«Penso que qualquer homem ou mulher que tenha qualidades ou vocação para se colocar de uma forma específica ao serviço da comunidade deve fazê-lo e ser presbítero», adiantou.
Ana Vicente considerou ainda que os padres «não devem ter medo dos fiéis», tendo defendido que devem existir «acções de formação do clero», algo que deve acontecer com urgência para evitar declarações como as do responsável do Santuário de Fátima.
«O monsenhor Luciano Guerra disse recentemente numa entrevista que acha que a mulher deve aceitar um marido que lhe dê um soco de vez em quando desde que ame verdadeiramente o resto do tempo», exemplificou.
Para Ana Vicente, «este tipo de discurso, profundamente machista primário, é ofensivo da dignidade de mulheres e homens e é obviamente anti-cristão».