Miguel Frasquilho, Presidente do Conselho de Administração (chairman) da TAP, é o entrevistado desta semana do programa A Vida do Dinheiro, da TSF e do Dinheiro Vivo.
Como tem sido a convivência entre acionistas na TAP? E onde divergem mais?
A convivência tem sido construída com naturais divergências de opinião, mas encontro uma grande sintonia quanto à estratégia que a TAP deve prosseguir e quanto aos objetivos a atingir. As divergências acontecem para serem progressivamente limadas e esse é um dos papéis que cabe ao chairman. Tenho tido um contacto muito amplo com todos os acionistas, sem exceção. Aliás, tenho sempre as portas do meu gabinete abertas quando os trabalhadores quiserem falar comigo.
As divergências têm a ver com rotas? Ou com a gestão?
Não, não. A companhia é gerida pelos órgãos. O Estado não se intromete na gestão da empresa. Há um conselho de administração de onde emana a comissão executiva, que toma as decisões de gestão correntes, e naturalmente há um contacto. Somos 12 no conselho, a comissão executiva é composta por três elementos e há um contacto grande entre o presidente do conselho de administração e o CEO, que é o engenheiro Fernando Pinto, há 17 anos na TAP e que tem desenvolvido reconhecidamente um trabalho muito meritório.
É filiado no PSD, partido que aprovou a venda de 66% da TAP a privados, e foi nomeado pelo PS, que reverteu parte dessa privatização. É irónico?
Eu já estava como presidente da AICEP. A TAP tem o estatuto de empresa privada e eu entendo que este modelo é bastante equilibrado porque contempla várias sensibilidades, as dos acionistas privados e as do acionista estado. A TAP é uma empresa extraordinariamente importante para o país. Se excluirmos a atividade de refinação da Galp, a TAP é a maior exportadora nacional, portanto a sua performance está umbilicalmente ligada à evolução da economia. É muito bom termos a sensibilidade dos acionistas privados e a sensibilidade do Estado. É estratégica, tem interesse público grande, mas deve cumprir determinados critérios que a tornem rentável e atrativa para os investidores. Temos investidores com perfis tão complementares como o Estado, sempre zelando pelos interesses do país e da TAP, temos um investidor privado de referência português do setor dos transportes, o grupo Barraqueiro, através do seu presidente, o comendador Humberto Pedrosa, temos um reconhecido especialista em aviação internacional, David Neeleman, que tem um historial noutras companhias e geografias, e a presença do acionista chinês, o grupo HNA que já é acionista da TAP e que permite complementar a operação da TAP nas Américas, na Europa e em África, com a rota que recentemente foi aberta entre Pequim e Lisboa, operada pela Beijing Capital Airlines, que faz parte do grupo HNA em parceria com a TAP. E 5% do capital está na mão dos trabalhadores, depois de uma OPV que foi um sucesso: a procura suplantou a oferta mais de 17 vezes e mostra uma confiança dos trabalhadores no futuro da empresa.
Sendo do PSD, não é irónico ser nomeado por um governo PS para uma função destas e onde o Estado é acionista?
Não vejo as coisas por esse prisma. Fui convidado pelo primeiro-ministro para exercer estas funções. Achei um convite muito honroso, irrecusável. Estava dentro do que tinha programado para o meu futuro profissional, continuar ligado ao mundo empresarial. E foi por isso que também acedi ao convite do então primeiro-ministro Pedro Passos Coelho para assumir a presidência da AICEP. Não acho irónico, acho um desafio interessantíssimo e está a ser uma experiência muito rica.
Do ponto de vista ideológico, defende uma TAP privada ou detida pelo Estado?
Penso que o modelo tal como está é muito equilibrado.
E porque é que nunca se tinha encontrado este modelo e a discussão foi sempre entre privatizar ou mantê-la no Estado?
O engenheiro Fernando Pinto veio para a TAP em 2000 para preparar a privatização. Ela acabou por acontecer em 2015, portanto o tema não era consensual nos governos, na opinião pública. Penso que foi encontrado um modelo equilibrado.
Enquanto presidente do conselho de administração da TAP, tem voto de qualidade em matérias relevantes para a companhia, no fundo é o garante do estado e o travão dos acionistas privados. Qual é a linha vermelha que não vai deixar passar?
Não vejo as coisas assim. No primeiro conselho de administração propus, e todos os colegas acharam que era uma boa ideia, e vamos tentar que assim aconteça, que as decisões sejam, sempre que possível, tomadas por unanimidade. Para que não haja clivagens e para que o chairman nunca tenha de intervir, porque espero nunca ter de chegar a uma situação dessas.
Quando é que a TAP tem condições para entrar em bolsa?
Esse é um desafio que vivemos. Penso que num horizonte temporal de três, quatro anos, vai depender muito de como a atividade evoluir. Neste momento a atividade da TAP está a correr bastante bem, os objetivos em termos de metas e resultados para este ano vão ser bastante positivos.