Ambiente

Agricultura desespera por chuva

Nuno Veiga/Lusa

Agricultores não arriscam semear e já estão a contar com fruta de menor calibre e em menor quantidade.

Citrinos mais pequenos, hortícolas que não estão a ser plantados, furos para rega no limite e uma próxima campanha de fruta comprometida - resultados de um seca que teima em permanecer num mês de outubro quente, muito quente.

A falta de pastagens é o problema mais visível e o que salta mais à vista na agricultura. Mas a seca está a atingir muitas culturas. É o caso dos citrinos. Muitos ainda continuam em cima das árvores à espera de crescerem.

Horácio Ferreira, presidente da CACIAL, a maior associação de produtores de citrinos do Algarve, garante que nesta altura a situação "já é complicada". A apanha está a ser retardada porque as laranjas não têm o calibre necessário. Nesta campanha de inverno haverá, pois, menos laranja e mais pequena, o que levará a um aumento do preço dos citrinos com maior calibre os mais procurados.

Feliz Alberto, da Associação de Agricultores do Oeste, adianta que não se verificando qualquer chuva, também não se estão a fazer plantações de hortícolas, como couves ou alfaces, "porque nesta altura só se pode fazer horticultura com rega", lembra, e muitos agricultores já têm as suas reservas de água no limite."

Com estas temperaturas ninguém se arrisca a semear", garante Domingos Santos, presidente da FNOP, a Federação Nacional das Organizações de Produtores de Frutas e Hortícolas.

E se alguma fruta, atualmente a ser comercializada, não teve problemas nesta campanha, como é o caso da pera rocha e das maçãs, na campanha da primavera e verão provavelmente será diferente.

"A próxima campanha será afetada porque a árvore está com o seu ciclo trocado", afiança o agricultor, o que pode levar a ter fruta de menor calibre e em menor quantidade. "O problema é que isto vem numa continuidade. Um agosto quente, um setembro o mais quente dos últimos 80 e tal anos e um outubro que é o que estamos a ver", lamenta Domingos Santos.

Além da seca, junta-se o tempo anormalmente quente para a época. "As plantas ficam completamente baralhadas".

As árvores não reconhecem este tempo de outono tão diferente." Os pêssegos, as maçãs, as pereiras, estas árvores deviam absorver mais reservas do solo para passarem o inverno quando perdessem a folha". Mas nesta altura as próprias árvores já estão a perder a folha, "não por frio mas por sede".

O problema, segundo este agricultor, é que já há muita gente no campo sem reservas de água nas pequenas "charcas" para regar as culturas.

A somar a este problema, quando chove, verifica-se outra situação no País. Faltam pequenas barragens para armazenamento e toda a água vai parar ao mar.

"Isto é um problema ambiental", lastima Domingos Santos. De acordo com o presidente da FNOP a própria fauna silvestre, "coelhos, javalis, raposas, estão desesperados, entram quase na casa das pessoas com sede".