Especialistas que estudaram Pedrógão dizem que fogos de 15 de outubro foram ainda maiores e é preciso estudar a nova realidade de incêndios que andam a alta velocidade.
Três peritos da antiga Comissão Técnica Independente criada pelo Parlamento para investigar o que se passou em Pedrógão Grande defendem que é preciso estudar muito bem como foi possível Portugal ter vários fogos ainda mais devastadores que o incêndio de 17 de junho no Pinhal Interior, progredindo a uma velocidade nunca vista, no dia 15 de outubro.
Um desses especialistas é Carlos Fonseca que, além de investigador na área da conservação da natureza, viveu na pele os fogos de outubro ao defender em Penacova um medronhal de que era proprietário e que ficou destruído.
Carlos Fonseca recorda à TSF que, quando se deparou com aquele fogo 'de frente', só pensava no que aprendeu durante os três meses em que esteve envolvido no relatório sobre Pedrógão.
A 15 de outubro, sublinha, a área ardida foi incomparavelmente superior e foram vários enormes fogos em diferentes zonas do país, com dois deles a queimarem, cada um, mais de 60 mil hectares.
Chamas percorreram 100 quilómetros em 6 horas
O especialista recorda que no incêndio que atingiu o seu medronhal as chamas andaram a uma velocidade que mesmo para o próprio, que conhece outras realidades internacionais, parecia impossível: 100 quilómetros em apenas 6 horas.
Carlos Fonseca diz que tem 12 parcelas bastante separadas de medronhal e sempre defendeu que essa era a melhor forma de nunca arder tudo de uma vez, caso existisse um incêndio. Agora, aconteceu-lhe o impossível: o fogo foi tão grande que todas as parcelas arderam.
O especialista da Universidade de Aveiro diz que a "anormalidade de incêndios tão grandes" revela que já nem a prevenção é suficiente para proteger os territórios e é preciso aprender lições para o futuro.
Apesar de ser uma "boa base", o relatório sobre Pedrógão tem de ser atualizado e revisto até para evitar consequências em fogos que já percebemos que podem passar a ser comuns, até para perceber "as novas dinâmicas destes grandes incêndios", defende Carlos Fonseca.
Fragilidades de Pedrógão podem ter-se repetido
Paulo Fernandes e Francisco Rego são outros dois peritos da Comissão Técnica Independente que dizem à TSF que é preciso estudar aprofundadamente o que aconteceu a 15 de outubro na zona Centro.
Paulo Fernandes, doutorado em Ciências Florestais e Ambientais da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro, adianta que cientificamente não há dúvida que é preciso estudar este fenómeno raro e novo até para aprender lições para o futuro, sendo que explica que já teve contactos de investigadores estrangeiros interessados em perceber o que aconteceu em Portugal naquele dia.
Quanto a Francisco Rego, professor do Instituto Superior de Agronomia, afirma que é "obrigatório que, tal como em relação a Pedrógão, se faça um estudo para perceber o que aconteceu neste dia de outubro que tem características diferentes do de junho e que também pode ter origem nas mesmas fragilidades".
É preciso analisar os aspectos da meteorologia, do combate e da própria prevenção como a limpeza dos materiais combustíveis.
O especialista da Universidade de Lisboa acrescenta que este caso é desde logo diferente porque em Pedrógão as causas mais graves surgiram de um único incêndio sendo que, a 15 de outubro, surgiram de vários incêndios.