Ciência e tecnologia

Dadbot. Ou como tornar um pai imortal

Twitter de James Vlahos

Quando James Vlahos (Wired) soube da doença terminal do pai, decidiu gravar todas as histórias, todos os cantos e recantos da memória de John James Vlahos. Agora pode conversar com quem já partiu...

-- Eu não acredito que devemos viver para sempre, mas acho que as memórias das pessoas que amamos, sim

A ligação de James Vlahos com o pai era impecável. As lembranças eram muitas, a infância foi movimentada, com viagens, acontecimentos vários e alegria. Um dia, uns bons anos mais tarde, recebeu uma chamada: o pai tinha tido um ataque cardíaco e estava no hospital. Quando este jornalista da Wired lá chegou descobriu que, afinal, o seu pai tinha cancro no pulmão e que este se estava a espalhar por todo o corpo. Seria fatal. "Eram daquelas más notícias em que o médico não metia uma boa no fim...", lembra num dos palcos da Web Summit esta quarta-feira. Estava muita gente para ouvi-lo, as pessoas excediam as cadeiras disponíveis.

James Vlahos começou então a sofrer por antecipação, embora o tom sugira outra frescura no pensamento. Quis ouvir a história da família pela voz do pai, pormenores, viagens, piadas e cantorias. E gravou tudo, em mais de uma dezena de sessões, no quarto dos pais. Pelo meio, James foi perdoado por ter usado uma vez às escondidas a carrinha de John James Vlahos, o pai. O "velho" contou-lhe tudo, sobre como se apaixonou pela sua mãe, abordou a educação, o desporto, música, tudo e mais alguma coisa. Em resumo, revela num artigo da Wired, aquela conversa traduziu-se em 91,970 palavras e mais de 200 páginas.

Depois pagou a alguém para transcrever a conversa e criou um dossier: "Dad". Mas não chegava. O plano foi crescendo e James acreditava que ia ter vontade de saber dele, de o ouvir, de poder recorrer a ele.

A doença eventualmente terminou o seu serviço e James deparou-se com o derradeiro desafio: usar o dadbot. O jornalista demonstrou esta quinta-feira a dinâmica da coisa na apresentação na Web Summit, ainda que através de uma gravação, porque não quis arriscar. Fazia perguntas por voz e o "pai" respondia textualmente, agarrado à informação arquivada naquela espécie de app. Insatisfeito, aventurou-se na ideia de dotar o "pai" de voz. E lá trocaram ideias, ouviu-se o pai cantar, responder a perguntas como "quem sou eu?" e "quem és tu?" e ainda a cantar.

Como ele deixou muito claro na apresentação, a ideia não é viver num mundo assustador, mas apenas ter a capacidade de recordar alguém. "O dadbot não substitui o meu pai de maneira nenhuma, mas a tecnologia ajuda-me a lembrar-me dele."

Curioso foi o que aconteceu pouco tempo depois de o seu pai partir. O filho de James, Zeke, perguntou-lhe se podiam falar com o bot que conversava, algo que comparou ao Siri. Zeke deixou muito claro: "Ó, pai, eu quero o Papou". Papou é o termo grego, donde a família Vlahos vem, para avô. "E eu entreguei-lhe o telefone."