Cultura

Um "herói da música portuguesa" com "uma bondade extrema"

DR (arquivo)

Adolfo Luxúria Canibal, Tó Trips e António Manuel Ribeiro recordam Zé Pedro. O guitarrista dos Xutos e Pontapés morreu esta quinta-feira aos 61 anos.

O músico e vocalista dos Mão Morta Adolfo Luxúria Canibal recorda Zé Pedro como uma "pessoa de uma bondade extrema", Tó Trips, dos Dead Combo, lamenta a perda de "um grande amigo" e António Manuel Ribeiro, dos UHF, lembra o "herói da música portuguesa" com quem passou uma noite ao relento.

Adolfo Luxúria Canibal

O Zé Pedro "criou os Xutos, lutou para os criar, para que tivessem reconhecimento. Os primeiros anos não foram nada fáceis e quando finalmente os Xutos se transformaram num sucesso de massas manteve-se sempre sereno simpático, acessível. Era uma pessoa com quem gostava muito de conversar. Tinha uma cultura geral e sobretudo musical extraordinária. Falávamos de discos, dvds, concertos e muitos deles ele tinha lá estado. Era uma pessoa com um grande conhecimento desta paixão que o movia o rock and roll. A sua morte talvez de alguma forma anunciada há uns tempos chegou finalmente, infelizmente e vai deixar um grande vazio porque ele era a alma dos Xutos e acredito que ele gostaria que continuassem sem ele, mas vai ser difícil pensar neles sem ele".

Tó Trips

"Conheci o Zé nos anos 90, parava imenso no Johnny Guitar, saíamos. A década de 90 era a década das noitadas e saíamos imenso os dois com mais malta antiga, saíamos do Johnny e íamos pela noite fora. Era das pessoas que mais admirei na vida. Adorava ir com o Zé a um restaurante chinês, a concertos, o Zé contava sempre imensas histórias sobre rock and roll. Vou sentir a falta dele, fico um bocado mais sozinho. Embora tenha família, acho que ficamos todos mais sozinhos. Era um grande amigo."

António Manuel Ribeiro

"Os UHF começaram uns meses antes dos Xutos. Fomos contemporâneos, vivemos aqueles primeiros tempos de descoberta de um espaço para a música portuguesa a que chamámos rock português. Fomos companheiros desta aventura logo desde o início. Com o Zé Pedro nós fomos companheiros. Quando me deram a notícia, eu tinha estado a escrever um poema sobre os meus heróis que estavam a desaparecer e ele era um dos meus heróis da música portuguesa.

O Zé lutou para que os Xutos chegassem onde chegaram, ao primeiro plano da música portuguesa, isso tem todo o valor. Se calhar depois quando as pessoas morrem é que começamos a ver que além de guitarra há muito trabalho que o músico tem fora do placo. Fez esse trabalho, era essa simpatia, era o relações públicas, a cara que enfrentava o microfone e as câmaras.

Tivemos aventuras muito curiosas. Ainda antes de 1980 fomos para um festival em Vila Viçosa, as duas bandas e os Minas e Armadilhas, e de Lisboa foi um autocarro com gente a apoiar os grupos. Quando lá chegámos só havia uma pensão e como levámos as namoradas e mulheres elas ficaram a dormir nos quartos e nós andámos, eu e ele. Ficámos a passear pelas ruas porque não havia estadia nem bares abertos e a nossa forma de vencer a falta de um quarto foi passear. Cconseguimos passar a noite apenas atravessando as ruas de Vila Viçosa".