Cultura

"Símbolo da música elétrica", Zé Pedro "tinha um vínculo com a eletricidade"

Gonçalo Villaverde

Luís Montez e Henrique Amaro recordam Zé Pedro. O guitarrista dos Xutos e Pontapés morreu, esta quinta-feira, aos 61 anos.

Luís Montez, diretor da promotora Música no Coração, lembra o "grande ser humano, de coração de ouro", enquanto o radialista Henrique Amaro recordou "o sorriso" do "fundador da maior banda de rock and roll de Portugal".

Luís Montez

"Era das melhores pessoas que eu conheço, um coração de ouro. Não conheço ninguém que não gostasse do Zé Pedro. Contagiava amor por onde passava, era uma pessoa com uma empatia enorme. Amante de música, ensinou-me muitos valores da minha vida como a amizade a solidariedade e o perdão. Os Xutos têm a duração que têm, devem muito a estes coração de ouro que conseguia unir as pessoas com a sua palavra. É uma referência da minha vida, das pessoas que mais me marcou, era um amigo e estava à espera que, mais dia, menos dia, fosse acontecer, mas nunca queremos acreditar. Fica a grande memória o exemplo, a bondade e o coração de ouro que era o Zé Pedro. Vai-me fazer muita falta.

Henrique Amaro
"Conheci-o no início da minha vida profissional, na rádio energia e houve uma pessoa, o Sérgio Noronha, que nos apresentou para fazer um programa de música portuguesa. Uma vertente que deve ser elogiada nele era ter muita vontade de fazer coisas. Uma delas era ter um clube de rock e fundou com o Alexandre Cortez, dos rádio Macau, o seu clube. Foi essa coincidência do começo da rádio energia que nos juntou aos dois. Eu também estava a começar e foi a partir daí que surgiu esse programa o Johnny Guitar. Devo muitas coisas ao Zé Pedro, entre elas ter aprendido um bocadinho mais da rádio a fazer rádio com uma pessoa que de rádio era um ouvinte, mas musicalmente era uma pessoa sem preconceitos, no fundo ajudou-me a moldar o gosto.

O Zé Pedro era muito dessa ideia da música pela música. Tinha os seus ideais, mas tinha um vínculo com a eletricidade. É um símbolo da música elétrica portuguesa. Foi o Zé Pedro que me mostrou os Led Zeppelin, de maneira muito pedagógica. Estamos a vivenciar uma coisa muito nova com a morte dele, dos poucos que ganharam alguma notoriedade pública e faleceram foram o João Aguardela e o João Ribas. Felizmente até nisso a tragédia não nos tem afligido tanto. O Zé Pedro é um pilar da nossa igreja uma pessoa fundamental para a nossa educação. Esteve presente numa geração inteira, através do que disse ou do que a sua banda fez.

Isto é um luto que atinge outras pessoas, o Tim o João Cabeleira, o Gui e o Kalu. Apesar de ter uma autoestima grande e de saber o seu papel na banda, raramente falava do eu, sempre teve a ideia de conjunto, aqui estamos nós, os Xutos e Pontapés. É um luto único que estamos a viver como povo. Sempre fazemos o luto aos grandes pilares internacionais, mas agora é a primeira vez que está a acontecer nesta dimensão".