Sociedade

Perder tudo e recomeçar no mesmo dia. A Farmácia de Melo não se rende

TSF

A Farmácia Central foi uma das oito casas em Melo que arderam no fogo de 15 de outubro. Fechou portas por poucas horas. No mesmo dia, já havia um novo espaço e os medicamentos estavam garantidos.

O dia 15 de outubro de 2017 jamais será esquecido por Isabel Coelho. Foi o dia em que fez 54 anos, o dia em que as chamas entraram em Melo e o dia em que perdeu a farmácia.

Nessa noite, Isabel acordou sobressaltada para descobrir que o quintal de casa estava a arder. Fugiu com o marido para o quartel de bombeiros, onde já se juntavam os habitantes da aldeia. Mesmo sem luz, conseguiu ir à farmácia procurar máscaras para distribuir por quem enfrentava o fumo.

O marido juntou-se a alguns bombeiros que partiam para outras povoações e a mãe estava numa aldeia vizinha com o fogo à porta. Foi buscá-la e quando chegou foi recebida com uma má notícia. Os bombeiros tinham conseguido salvar a casa, mas a farmácia, a menos de 50 metros do quartel, mesmo no centro da aldeia de Melo, estava a ser engolida pelas chamas.

Alguns homens arriscaram, conseguiram entrar, mas só salvaram um computador e pouco mais. Não havia nada a fazer. A Farmácia Central de Melo, que serve mais de 1500 pessoas na região, estava reduzida a cinzas. Para conseguir medicamentos, só na sede de concelho, em Gouveia. Em alguns casos é preciso percorrer mais de 20 quilómetros pelo meio da serra. Os transportes faltam e a população, na maioria envelhecida, não tem forma de lá chegar.

O que viria a seguir, surpreendeu Isabel. Nessa mesma noite, começou a receber chamadas. "O que é que precisa? Onde é que quer reabrir a farmácia?". Isabel não sabia. Estava desorientada.

A Plural - Cooperativa Farmacêutica, foi incansável. Tal como a Associação Nacional de Farmácias, a junta de freguesia de Melo, a câmara de Gouveia, os colegas farmacêuticos espalhados por todo o país.

O dia mais longo de Isabel acabou com a certeza que a Farmácia Central estava de novo de pé. Segunda e terça, os habitantes que precisaram de medicamentos foram levantá-los a Folgosinho. A junta cedeu instalações, chegaram móveis, medicamentos, os informáticos recuperaram dados. E na quarta-feira, Melo já tinha farmácia.

"Foi uma onda de solidariedade incrível", conta Isabel, que faz já planos para encontrar um espaço definitivo. "Pela minha vontade, Melo não vai deixar de ter farmácia."

(Siga aqui a Emissão Especial TSF Incêndios 2017 - A reconstrução contra o esquecimento)