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Um Papai Noel como Geni e uma família muito unida

© Lucas Landau/Reuters

A acidez e a doçura extremas fazem parte, lado a lado, do quotidiano do Brasil: uma história de Natal e outra de Ano Novo, às vésperas do Carnaval.

Ainda falta um mês para chegar mas no Brasil só se fala nele, no Carnaval, a maior paixão nacional. Há micaretas (carnavais fora de época) por todas as esquinas do país continente e no Rio de Janeiro, a cidade que organiza o desfile mais famoso do mundo, o fim de semana passado já foi de máscaras, fantasias, samba, folia e blocos de rua porque os cariocas não aguentam mais esperar.

Mas para quem não é brasileiro, o tempo ainda é de ressaca do Natal e do Ano Novo.

Às vésperas de dia 25 de dezembro, em Itatiba, estado de São Paulo, o Papai Noel distribuía sossegadamente rebuçados pelas crianças de um bairro carente quando, de repente, as guloseimas da sacola acabaram. Ato contínuo, os moleques que o rodeavam, entre os 9 e os 12 anos, decidiram chamar-lhe de "filho da puta" para baixo e apedrejá-lo sem piedade como à Geni, do icónico "Geni e o Zepelim" de Chico Buarque. Ao Pai Natal, e ao condutor do pequeno veículo que lhe servia de trenó, não restou alternativa se não fugir para a Lapónia, provavelmente.

Entretanto, no Rio, o senhor César, motorista de ônibus, teve um pequeno dissabor por altura das festas: soube pelo chefe que não poderia festejar, como tanto gosta, o réveillon em família porque foi escalado para os turnos da noite e da madrugada de 31 de dezembro para 1 de janeiro.

A sua mulher, Dona Cris, manicure de profissão, não pensou duas vezes: pintou-se toda, arrumou os filhos com as melhores roupas, pegou na ceia, esperou na paragem uns minutos, picou os bilhetes e chegou a 2018 de ônibus, ao lado do maridão (e dos outros passageiros), numa festa insólita mas, sem dúvida, inesquecível no país mais agridoce do planeta.

O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da Rádio a crónica Acontece no Brasil.