Enquanto em 2008 se gastaram 2.6 mil milhões, no último verão foram transferidos 5.6 mil milhões. Foram registados 96 transferências acima dos 15 milhões, sendo que houve dez... acima dos 50.
É melhor arregaçar as mangas e arregalar os olhos. Os principais clubes europeus não estão para brincadeiras, confirma um relatório da UEFA. No verão de 2017 foram gastos 5.6 mil milhões de euros em jogadores na Europa, sendo que 80% desse valor diz respeito, naturalmente, aos big five: Inglaterra, Itália, França, Espanha e Alemanha. Os empresários ficaram com 12,6% do dinheiro gerado por essas cerca de 2000 mil transferências.
Nesse mesmo verão, onde se verificaram dez negócios acima dos 50 milhões de euros, foram registadas seis das 20 transferências mais caras de sempre. Das 96 transferências acima de 15 milhões de euros que tiveram lugar nessa janela, apenas quatro futebolistas foram calcar as relvas de estádios longe dos big five: três para o Zenit e um para... o FC Porto. Trata-se de Óliver Torres, o ex-futuro jornalista, que trocou o Atlético Madrid pelos dragões por 20 milhões de euros.
Comecemos por olhar para a evolução dos tempos, puxando o filme atrás, comparando os valores gastos nos verões europeus, cada vez mais quentes. E cada vez mais influenciados pelos agentes, que ficaram com 12,6% do dinheiro gerado pelos clubes.
2008: 2.6 mil milhões
2009: 2.4 mil milhões
2010: 2.0 mil milhões
2011: 2.4 mil milhões
2012: 2.3 mil milhões
2013: 3.0 mil milhões
2014: 2.9 mil milhões
2015: 3.8 mil milhões
2016: 4.0 mil milhões
2017: 5.6 mil milhões
No mercado de inverno os clubes adicionaram àqueles 5.6 mil milhões mais 1000 milhões. O peso nas transferências dos big five também regista o seu ponto mais alto da década: em 2010 era apenas 63%, passando a 80% em 2017. E quais são as ligas mais gastadoras? Inglaterra (29%), Itália (15%), França (15%), Espanha (11%) e Alemanha (10%). O campeonato inglês perdeu 3% para a Ligue 1, onde se observou a "galactização" do PSG. A fatia da Ligue 1, no espaço de um ano, subiu de 5% para 15%.
Nunca houve tantas transferências acima dos 15 milhões como no verão de 2017. Em 2008 apenas 24 jogadores foram transferidos acima desse valor, saltando para 42 em 2013 e 60 em 2015. Agora batem-se todos os recordes (96). Curioso é esmiuçar essas 96 transferências: 65 entre os 15-30 milhões, 21 entre 30-50 milhões e 10 acima de 50 milhões de euros. Entre 2008 e 2016 foram 19 as transferências acima dos 50kg, como dizem em Espanha. Só em 2017 foram 10, com Neymar, Lukaku e Dembélé, Morata e Mendy à cabeça.
Os clubes pagaram mais para obter 11 franceses, que lideram a lista dessas 96 transferências. Não surpreende, com a escola, técnica e a potência evidenciadas em tantos exemplos. A seguir, surgem os espanhóis (8), argentinos (7), ingleses (7), italianos (7), brasileiros (6), colombianos (5) e portugueses (5).
Para fechar, uma notícia digna de uma "respirada", como dizem os brasileiros. Portugal foi o que fez mais lucros na dança das compras e vendas: gastou 72 milhões, vendeu 304 milhões e deixou em caixa 231 milhões de euros. Está na frente do ranking, que deixamos em baixo. Uma nota: a Premier League foi a que gastou e recebeu mais dinheiro no verão que passou. Com um balanço positivo estão apenas quatro campeonatos: português, belga, espanhol e a segunda divisão inglesa.
Quanto a clubes, apenas dois grandes clubes receberam mais do que gastaram: Mónaco (+256 milhões) e Barcelona (+34 milhões) -- atenção que Coutinho foi contratado no inverno, pelo que não consta desta lengalenga. Os monegascos, os catalães e o Chelsea foram as equipas que mais receberam. Os que usaram mais o cartão de crédito foram, sem surpresa, PSG e Manchester City, seguidos por AC Milan e Chelsea. Este trabalho permite enviar achas para a fogueira de uma conversa que vai marcando a Liga Inglesa: o City gasta mais do que os outros? Guardiola compra defesas a preço de avançado? Bom, provavelmente tudo é verdade, mas também é possível verificar uma coisa: City e United gastaram 249 milhões e 164 milhões, respetivamente, mas receberam em doses diferentes. Os citizens meteram ao bolso 96kg, enquanto os reds só angariaram 12. Ou seja, ambos ficaram a perder os mesmos 153 milhões.
Apesar destes valores astronómicos, não devem ser poucos os treinadores que esperam um bombom de janeiro, para compor o elenco, para dar comprimento à equipa que almeja abraçar os canecos e, porque não?, para travar o reforço dos rivais...