Autarca de Desterro, no Sertão da Paraíba, trabalhou quatro dias num ano por causa de um sem fim de doenças. Mas, afinal, trabalha em negócio lucrativo, numa cidade vizinha.
Dilson de Almeida, mais conhecido como Didi, foi eleito em outubro de 2016 prefeito da pequenina Desterro, cidade no Sertão da Paraíba, nordeste do Brasil. Tomou posse em janeiro do ano seguinte mas apresentou baixa médica logo ao quinto dia de trabalho. A Câmara Municipal, com vereadores na sua maioria aliados de Didi, autorizou a baixa mesmo sem a apresentação de atestado médico, fiando-se na boa-fé do prefeito, ainda a gozar do estado de graça dos recém-eleitos.
Passaram-se seis meses e de Didi nada. A população, e mesmo os aliados, começaram então a sentir desconforto até porque o vice-prefeito, Valtércio de Almeida, primo de Didi conhecido por Vavá, não tinha autorização para pagar aos funcionários públicos e aos fornecedores de Desterro. De baixa? Tudo bem, com a saúde não se brinca. Mas sem atestado? E por meio ano?
Passados seis meses, Didi volta ao Desterro para, adivinharam, pedir nova baixa médica de seis meses. Desta vez, para que não se gerassem dúvidas da sua saúde debilitada, o prefeito trouxe um atestado onde se queixava de pré-diabetes, síndrome do intestino irritado, colite, esofagite e stress intenso.
Chegados a 2018, Desterro perguntou-se: "Afinal quando volta Didi"? E ele voltou, sim, mas com um pedido pois é de nova baixa médica de seis meses na manga, acrescentando "cardiopatia" à sua longa lista de maleitas.
A partir dái, o caso ganhou repercussão regional e nacional e a TV Globo foi à procura do prefeito.
Com aparente saúde de ferro, Didi mora a 40 quilómetros de distância, em São José do Egito, já no estado de Pernambuco, onde a família gere um lucrativo negócio de postos de combustível. "Não tenho condições de voltar mas, em todo o caso, não sou renumerado...", defendeu-se o perfeito. Bastou à Globo ir ao site da prefeitura vasculhar para verificar que Didi recebe sim 10 mil reais por mês (mais de 2500 euros) da autarquia. Ou seja, 35 000 reais (quase 9000 euros) por cada um dos quatro dias trabalhados.
Quando soube, a população de Desterro ficou doente.
O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da Rádio a crónica Acontece no Brasil.