Economia

"A reforma do Estado é uma necessidade"

Lisboa, 29/01/2018 - Entrevista Fernando Alexandre, Economista e ex-secretário de Estado adjunto da Administração Interna no Estúdio da TSF em Lisboa. (Jorge Amaral/Global Imagens) Jorge Amaral/Global Imagens

O economista que apoia Rui Rio diz que a reforma do Estado é difícil mas necessária, defende Fernando Alexandre.

Fernando Alexandre defende, em entrevista à TSF e ao Dinheiro Vivo, no programa "A Vida do Dinheiro", que a reforma do Estado é difícil mas necessária.

Se Rui Rio se tornar primeiro-ministro, considera que a reforma do Estado será integrante da agenda de governo?

Não vou falar aqui em nome do Dr. Rui Rio. É evidente que se há um perfil que Rui Rio tem é de gestão rigorosa.

E o senhor já o aconselhou nesse sentido?

A reforma do Estado é uma necessidade óbvia, tem de ser um movimento constante. Essa reforma tem de olhar para a qualificação dos trabalhadores da função pública, para os meios que têm ao dispor, como as tecnologias de informação, para a organização dos próprios serviços. Há um enorme caminho a fazer e essa é uma tarefa que as lideranças dos serviços podem fazer e vão fazendo, mas o governo tem de ter aí um papel muito importante de forma a que os serviços sirvam melhor a sociedade e a economia. Há um certo consenso em Portugal acerca disso.

O PSD quer fazer o país crescer, aumentar as exportações, reduzir o desemprego, algo que já acontece. O que se pode fazer diferente se Rui Rio vier a governar?

Não resulta do que o Dr. Rui Rio poderá vir a fazer como primeiro-ministro, resulta daquilo que são os meus estudos da economia portuguesa já há muitos anos. A economia deixou de crescer em 2001, temos de recuar mais de cem anos para encontrar um período tão longo e tão mau como tivemos no século XXI. Havia a ideia de que a crise acabou e que vamos recuperar, mas o período de 2001 foi o pior período num século. Se entre 1960 e 2000 tivemos no top 10 das economias que mais cresceram no mundo, no século XXI estivemos nos três que menos cresceram e é preciso ter isso bem presente. Isto não resulta de um governo ou de um partido, resulta de problemas estruturais da economia e a análise que faço é que basicamente entrámos num bloqueio no processo de crescimento. Isto é, houve um modelo de crescimento que se esgotou no final dos anos 90 e nós tínhamos de fazer a viragem desse modelo, um modelo que deveria aproveitar as oportunidades do euro, da globalização e das multinacionais que a revolução tecnológica permitia e não fizemos isso, fechámo-nos.

Coordenou o livro "Investimento empresarial e o Crescimento da economia portuguesa", em que faz propostas para estimular o investimento privado em Portugal. O que é que pode ser feito?

Um dos problemas que temos é que os bons exemplos ainda não têm a massa crítica. Temos empresas muito dinâmicas, inseridas no mercado internacional, e depois temos uma parte da economia que ainda está excluída dessa economia global. A economia portuguesa só vai poder crescer - sendo muito endividada e tendo um problema demográfico muito sério - se as empresas venderem mais nos mercados internacionais. O que temos de fazer do ponto de vista do desenvolvimento é, nas políticas e no sistemas financeiro, dar todas as condições às empresas que querem e têm condições de crescer nos mercados internacionais. Do ponto de vista fiscal aquilo que me parece prioritário é a redução do IRC, um sinal para mostrar que a nossa economia e o nosso Estado é amigo do investimento e das empresas.