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Lingua Portuguesa é um «bem precioso»

O escritor José Saramago defendeu, esta quarta-feira, que a Língua Portuguesa é actualmente mal escrita e mal falada, sublinhando que ela é um «bem precioso» e que os portugueses «devem tratá-la melhor».

O Prémio Nobel português da Literatura falava na inauguração

de uma exposição sobre a sua vida e obra, intitulada "José Saramago - A Consistência dos Sonhos", na Galeria D. Luís I, do Palácio da Ajuda, em Lisboa, na presença do primeiro-ministro e de vários ministros, além dos da Cultura português e espanhol.

«O Português é hoje mal falado, é atropelado mortalmente todos os dias mas, como tem muita energia, sacode-se e põe-se de pé e continua», disse Saramago, frisando que «a língua é a mais preciosa das ferramentas».

«Já se riram de mim por eu ter dito que, com esta minha vida (...) eu descobri que a Língua Portuguesa é a mais formosa do mundo», comentou, acrescentando que nem sequer foi o primeiro, «Camões já o disse».

Depois de referir nomes como os do Padre António Vieira, Camilo Castelo Branco, Eça de Queirós, Aquilino Ribeiro «e toda essa gente que andou a Escrever», Saramago ressalvou que não sabemos, contudo, como falavam, porque viveram num tempo em que não havia registos sonoros.

«Nós, os que estamos aqui neste tempo, no que chamamos mundo de Língua Portuguesa, temos obrigação de escrevê-la bem, cada vez melhor, mas há outra obrigação que temos: falá-la bem», sustentou.

Afirmando não se tratar de «um apelo para salvar a Língua Portuguesa», José Saramago instou a que se tome «consciência de que se há um bem precioso que, ainda por cima, não é de ninguém em particular, é obra de todos, é a Língua Portuguesa».

«José Saramago - A Consistência dos Sonhos», que abre ao público quinta-feira e estará no Palácio da Ajuda até 27 de Julho, reúne mais de 1.200 documentos, fotografias, vídeos, recortes de jornais, objectos pessoais do escritor,

cartazes e livros.

Pela presença em Portugal da exposição, que esteve primeiro patente em Lanzarote, Espanha, onde o escritor reside, Saramago disse «obrigado a toda a gente», frisando ter sido uma ideia de Fernando Gómez Aguilera, director cultural da Fundação César Manrique, que contou, desde a primeira

hora, com o entusiasmo da sua mulher, Pilar del Rio.

«Quero dizer simplesmente obrigadinho, que é um diminutivo que os espanhóis não entendem mas é qualquer coisa que sai mais do coração: Obrigadinho», disse.