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A ex-ministra das Finanças desvaloriza o crescimento e deixa farpas a Costa. Se Rio não vencer as próximas legislativas, não descarta candidatar-se à liderança do PSD: "Tenho 50 anos, porque não?
Uma economia que cresce, um défice que desce e uma dívida que continua alta. Eis o retrato atual das contas de um país que há sete anos estava a chamar a troika. De 2008 para 2018 muita coisa mudou e o sucesso de António Costa acabou por provocar o insucesso de Passos Coelho como líder da oposição. Maria Luís Albuquerque viveu por dentro de tudo isto e muito mais.
O que é que falhou na estratégia de Passos Coelho como líder da oposição, que o levou, em última instância, a tomar a decisão pessoal de sair?
Diria que Passos Coelho tomou uma decisão pessoal e não me cabe a mim especular ou explicar as decisões dele. Tenho pena, acho que de facto deu muito ao país e podia continuar a dar muito ao PSD e ao país, e espero que ainda venha a fazê-lo no futuro, mas é sobretudo o reflexo de uma decisão pessoal, do seu entendimento do que era o melhor para o país e para o partido.
E o que falhou na estratégia do PSD? Porque a consequência não foi apenas a demissão de Passos Coelho como presidente do partido, foi o resultado numas eleições autárquicas que foi dos piores resultados que o partido já teve. Falhou alguma coisa no seu entender?
A questão das autárquicas não pode ser interpretada apenas a partir da liderança, naturalmente que se reflete na liderança mas as autárquicas têm dinâmicas próprias que explicam os resultados que ocorreram. E é o facto de estarmos a viver uma conjuntura que na aparência, no que vai sendo dito e do que é sentido no imediato, é uma conjuntura positiva. Seguramente divergimos na solidez dessa situação e no que poderá ser o futuro dessa situação, mas no momento aquilo que as pessoas sentirão é que os resultados têm sido positivos, e sobretudo face às expectativas que surgiram no início de que seriam muito negativos naturalmente que isso dá alguma vantagem.
A mim o que preocupa não é a vantagem pontual que as esquerdas possam ter, porque se o modelo fosse de facto sustentável e se conseguisse colocar o país num patamar superior, aí não poderíamos deixar de apoiar porque a nossa ambição é essa. A diferença é que não acreditamos que este seja o caminho e que é assim que se lá chega e é importante para o país que essas alternativas sejam claras. Não é questão de saber o que falhou no posicionamento da oposição, porque muito daquilo que foi a perceção tem a ver com uma postura de total intransigência e indisponibilidade do PS para abrir uma linha de diálogo sobre seja que assunto for. Não conseguimos que o PS aceitasse falar connosco nem sequer sobre coisas que são absolutamente críticas para o nosso futuro a prazo, como a Segurança Social ou a competitividade da economia. As nossas propostas foram sistematicamente rejeitadas, algumas delas depois repescadas como propostas da iniciativa do governo que são exatamente iguais. Chegamos ao ridículo de votar no OE contra propostas do PSD e a favor de propostas do PS que são iguais uma à outra. Com este posicionamento político da parte de quem está a exercer o poder é difícil fazer uma oposição que tenha resultados mais visíveis aos olhos dos cidadãos, mesmo que a estratégia esteja correta. É o que é.
Há pouco dizia que considera que Pedro Passos Coelho ainda tem muito para dar ao país. Tendo em conta a idade que Pedro Passos Coelho tem, gostava de o voltar a ver como presidente do PSD e como candidato a primeiro-ministro?
Gostaria, sobretudo porque acho que há uma parte muito importante do trabalho que Pedro Passos Coelho não teve oportunidade de realizar. Tivemos um governo extraordinariamente difícil pelas circunstâncias em que o país estava. Tivemos de tomar muitas medidas difíceis e acho que o balanço só pode ser positivo: recuperamos a credibilidade internacional, pusemos o país novamente a crescer, o desemprego a diminuir e pusemos a economia numa trajetória positiva. Esse é um balanço que qualquer avaliação honesta reconhecerá.
Faltou-nos a oportunidade de governar em circunstâncias menos difíceis. As escolhas em política nunca são fáceis, sobretudo as que olham para o futuro mais do que para o dia seguinte. Foi uma oportunidade que o país perdeu. Agora não vou dizer se Pedro Passos Coelho pode ou deve. Acho que foi um excelente PM e poderia revelar-se mais ainda aos olhos dos portugueses com outras condições do que aquelas em que teve de governar. Ele é que saberá se quer voltar. Acho que Portugal tem a necessidade imperiosa de aproveitar os seus melhores, sempre e em todas as áreas, e na política também. Não podemos ser um país que desperdiça os seus melhores recursos porque há uma mudança de ciclo político ou porque determinada pessoa não agradou a este ou aquele. Não tenho qualquer dúvida de colocar PPC num ponto muito elevado entre esses melhores.
A entrevista a Maria Luís Albuquerque vai para o ar este sábado, às 13h, na TSF. É também publicada na edição em papel do Dinheiro Vivo deste sábado, que sai com o Diário de Notícias e com o Jornal de Notícias.