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Lei do divórcio aprovada à esquerda

Na Assembleia da República foi aprovado, pela esquerda parlamentar e os votos contra do PSD e CDS-PP, o diploma do PS que altera a actual lei do divórcio, apesar dos socialistas não admitirem ceder na especialidade a um pedido do BE para que seja permitido o divórcio unilateral.

O projecto socialista sobre a lei do divórcio foi aprovado na generalidade. Votos a favor do PS, PCP, BE, «Os Verdes» e sete deputados do PSD. Contra votaram o CDS-PP, a deputada socialista Matilde Sousa Franco e a maioria da bancada social-democrata, onde se verificaram também 11 abstenções.

O PS afirma estar disponível para fazer melhorias na especialidade, mas estabelece desde já uma fronteira, rejeita a proposta do BE para que a vontade de um baste para terminar o casamento.

«Admite como facto, independentemente da culpa, a declaração de um dos cônjuges de que existe ruptura definitiva do casamento e que se este se mantiver, estamos perante uma violação do direito fundamental da liberdade. Sim ou não senhor deputado?», pergunto a bloquista Helena Pinto.

O argumento da inconstitucionalidade da proposta do BE para permitir o divórcio com base na declaração de vontade de apenas um dos cônjuges voltou a ser invocado no debate pelo socialista Alberto Martins.

«O divórcio unilateral não pode ser consagrado na nossa constituição, porque é inconstitucional, viola o princípio da igualdade», disse.

O divórcio sem consentimento dos dois cônjuges terá que ser assente em causas objectivas, como a separação de facto por um ano consecutivo, a alteração das faculdades mentais que dure há mais de um ano, a ausência pelo mesmo prazo e por «quaisquer outros factos que, independentemente da culpa de um dos cônjuges, mostrem a ruptura definitiva do casamento».

Nesta última categoria, inclui-se a violência doméstica que, segundo o líder da bancada do PS, Alberto Martins, «pode mostrar imediatamente a inexistência de comunhão de vida, própria de um casamento».

Sobre um outro ponto, a nova lei prevê que o cônjuge «que contribui manifestamente mais do que era devido para os encargos da vida familiar adquire um crédito de compensação que deve ser respeitado no momento da partilha».

O PSD, pela voz de Montalvão Machado, considera que o PS seguiu a via mais fácil o que pode no futuro tornar difícil as contas no momento do divórcio.

«Como é que os tribunais vão fazer neste competitivo deve e haver entre marido e mulher? Paga-se à ex-mulher seis euros à hora da parte do trabalho doméstico e 25 euros à hora quando ela ajudou os filhos a aprender Matemática e Português?», perguntou.

Já Nuno Melo, do CDS, contesta a forma como se pretende tornar crime a falha no cumprimento das responsabilidades parentais.

«Garantirá o PS participações criminais à razão semanal pelo pai que não visitou o filho, pelo pai que não levou o filho no fim-de-semana, pela mãe que não passou o Natal com o filho, a Páscoa ou o feriado?»

Quanto ao PCP, o deputado comunista António Filipe manifestou o acordo ao diploma, considerando que «o senso comum relativamente à matéria casamento está hoje significativamente alterado».

António Filipe manifestou também dúvidas quanto ao conceito de «crédito de compensação» na altura da partilha, considerando que tal figura pode «gerar insegurança jurídica».

Redação