O presidente do Partido Socialista admite que a matriz do PS está gasta. Almeida Santos reconhece ainda que a candidatura de Mário Soares nas últimas presidenciais foi um erro.
Almeida Santos defende que o PS tem de repensar a matriz politica, porque não é possível ter uma prática de acordo com a ideologia socialista. O presidente do PS, entrevistado pela TSF e Diário de Notícias, admite que o programa do partido vai ter de ser revisto.
«A matriz gastou-se. O 25 de Abril foi há 32, 33, 34 anos», afirma Almeida Santos, lembrando no entanto que o PS já fez «correcções» à orientação política.
«Os nossos textos foram sendo adaptados. Não sei se neste momento se justifica uma adaptação, mas admito que mais tarde ou mais cedo temos que rediscutir internamente os nossos textos programáticos. O mundo está a mudar de maneira vertiginosa», justifica.
Almeida Santos assume ainda que a última candidatura presidencial de Mário Soares foi «um erro».
«Quando escolhemos o doutor Mário Soares como candidato não se perfilava ainda a candidatura de Manuel Alegre. Não havia uma alternativa. Nessa altura aconselhei Mário Soares a não se candidatar, mas por uma única razão, pela idade que tinha e porque já tinha tido dois mandatos. Um mandato a partir dos 82 anos parecia-me um bocado excessivo, mas foi um conselho de amigo. Ele na altura foi sensível aos meus argumentos, mas depois decidiu candidatar-se», explica o presidente do PS e ex-presidente do Parlamento.
Nessa altura, Almeida Santos apoiou incondicionalmente Mário Soares, colocando-se ao lado do líder histórico como sempre tinha feito.
Quanto à crise interna do PSD, Almeida Santos está preocupado e diz que a democracia fica deficiente.
«Um país precisa no mínimo de dois grandes partidos. Em Portugal tem funcionado um partido de alternância, desde o 25 de Abril até agora os dois partidos de alternância foram o PS e o PSD. O PSD está a claudicar neste momento e a democracia está a claudicar porque uma das alternativas está a falhar. Acho que precisamos de um PSD mais organizado e mais coeso», defende.
Sobre os candidatos à liderança do PSD, entende que vai ganhar quem conquistar as bases do partido e duvida que Manuela Ferreira Leite consiga esse apoio.
«As últimas eleições directas do PSD foram ganhas pelas bases, não foram ganhas pelos notáveis. A doutora Manuela Ferreira Leite que é uma candidata de grande qualidade intelectual, na formação económica e financeira sobretudo, tem o apoio dos notáveis. Terá o apoio das bases? Não sei», adianta Almeida Santos.
«Eu diria que a tendência das bases que já apoiaram o doutor Luís Filipe Menezes será apoiar aquele que está mais próximo e colaborou com ele na qualidade de líder parlamentar, que é Santana Lopes», acrescenta.
Almeida Santos é o convidado desta semana do programa «Discurso Directo», uma parceria TSF e Diário de Notícias. Uma entrevista para ouvir depois das 11 da manhã.