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Faleceu historiador Joel Serrão (actual.)

O historiador Joel Serrão, 88 anos, faleceu quarta-feira à noite em Santana (arredores de Sesimbra), segundo fonte do departamento de História da Universidade Nova de Lisboa.

Joel Serrão, autor de dezenas de títulos de história, nomeadamente o «Dicionário de História de Portugal», faleceu vítima de doença prolongada.

O corpo do historiador vai hoje para a Igreja de Santo Condestável, em Lisboa, e o funeral sairá sexta-feira às 10:00 para o Cemitério dos Olivais, onde será cremado.

Historiador e ensaísta com vasta obra editada, Joel Serrão nasceu no Funchal, licenciou-se em Histórico-Filosóficas pela Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

Da sua enorme produção, destacam-se o «Dicionário de História de Portugal», elaborado ao longo de dez anos e que é encarado como um dos marcos da historiografia portuguesa do século XX, e a «Nova História da Expansão Portuguesa», em 11 volumes, dirigida em parceria com A. H. de Oliveira Marques.

De 1948 a 1972, Joel Serrão exerceu o magistério liceal em Viseu, no Funchal, em Setúbal e Lisboa.

Exerceu funções docentes na Faculdade de Letras da Universidade Clássica de Lisboa.

Director do Centro de Estudos de História do Atlântico (Madeira), foi membro do Conselho de Administração da Fundação Calouste Gulbenkian e exerceu funções docentes na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa.

A sua bibliografia inclui monografias históricas de cariz económico e sócio-cultural, edições críticas, análise de temas literários, estudos sobre figuras que se destacaram na evolução das ideias e da cultura - como Cesário Verde, António Nobre, Fernando Pessoa, Antero de Quental, António Sérgio, Vieira de Almeida e Sampaio Bruno - e obras de introdução às disciplinas filosóficas.

Com dezenas de títulos publicados na área da história, a sua obra constitui, juntamente com a de alguns contemporâneos, a primeira aproximação às correntes historiográficas europeias do pós-guerra, sobretudo à revista francesa de história económica e social Annales, fundada por Marc Bloch e Lucien Febvre, sendo unanimemente considerado um dos investigadores que mais contribuíram para uma visão de conjunto da história moderna portuguesa.

«Fernando Pessoa: Cidadão do Imaginário» foi a obra que lhe valeu, em 1981, o Prémio P.E.N. Clube Português de Ensaio.

Ouvido pela TSF, o historiador António Hespanha lembra Joel Serrão como um grande mestre.

«Tenho dele uma recordação pessoal gratíssima, porque foi uma pessoa que acompanhou a minha carreira, foi meu orientador de tese, e foi um dos poucos historiadores que antes do 25 de Abril constituiu uma referência para a renovação da história», disse.

António Hespanha sublinha ainda as razões da relevância de Joel Serrão entre os historiadores portugueses.

«Em primeiro lugar dedicou-se a estudar uma época maldita, o século XIX, princípio do século XX, que nos anos 60 ou 70 não era praticamente tocada, nem nos programas universitários nem do liceu. O Joel Serrão publicou antologias, ensaios, sobretudo sobre escritores, renovou profundamente essas perspectivas e puxou o interesse dos jovens da altura, por isso há muitas pessoas que se consideram seus discípulos», disse.

O historiador António Hespanha refere ainda o «Dicionário de História de Portugal» como uma obra de referência e a grande capacidade de Joel Serrão de se rodear de colaboradores que pertenciam «à nata» dos historiadores da época.

Também o historiador Fernando Rosas qualificou hoje Joel Serrão como «um grande mestre» e «um pioneiro da História contemporânea».

«Foi o meu orientador no mestrado e no doutoramento: um grande professor e um grande mestre», disse Fernando Rosas.

A investigadora Maria Filomena Mónica qualificou Joel Serrão como um historiador que «conseguiu olhar a História sem óculos ideológicos» ao contrário dos seus pares antes do 25 de Abril e salientou que «tinha uma grande capacidade de descoberta».

Maria Filomena Mónica conheceu pessoalmente Joel Serrão e foi por ele convidada para dar continuidade ao «Dicionário de História de Portugal», juntamente com António Barreto.

Redação