Saúde

Um humano viver com o coração de um porco? O futuro dos transplantes está aí

Realizou-se há um ano, no Hospital de Santa Marta, em Lisboa, o primeiro implante de um coração artificial definitivo em Portugal Nuno Pinto Fernandes/Global Imagens

Um ano depois do primeiro transplante de um coração artificial definitivo, o médico responsável pela cirurgia lamenta que Portugal não aposte em mais programas e continue a ficar na cauda da Europa.

A saúde não espelha as melhorias económicas no país. É o que defende José Fragata, o cirurgião que, há um ano, implantou um coração artificial definitivo num homem de 64 anos - uma cirurgia pioneira no Serviço Nacional de Saúde (SNS).

Em entrevista à TSF, José Fragata afirma que, além da falta de dinheiro, há falta de coragem para tomar decisões, mas aponta caminhos para aumentar o número de transplantes de corações artificiais e tirar Portugal da cauda da Europa nesta matéria.

"Um programa desta natureza, de que o país precisa, tinha que ter um financiamento próprio, (...) distribuído por um dois centos no país, porque esta tecnologia tem de estar concentrada", explica o cirurgião.

José Fragata revela que foram feito dois implantes de corações artificias em 2017 mas que, desde aí, "não aconteceu mais nada". "Ninguém consegue adquirir experiência se faz um caso por ano", alerta.

Apesar de tudo, este caso correu bem. O doente, de 64 anos, está vivo, ainda que outro problema de saúde se tenha agravado, entretanto. "Melhorou a sua qualidade devida, em termos cardiorrespiratórios, mas é uma pessoa com doença renal - foi essa a razão pela qual não foi naturalmente transplantada", conta o médico. José Fragata preserva a identidade do doente, mas conta que a relação que tem com ele é próxima.

Além da hemodiálise, o paciente está obrigado a carregar todos os dias a bateria que alimenta o coração - um sistema que, acredita o cirurgião, irá desaparecer, em breve.

"Eu acho que o carregamento de baterias vai começar a ser feito por indução, isto é, sem ter um cabo que o ligue ao exterior. Como os automóveis elétricos já têm! Isso vai ser uma melhoria muito grande", defende.

No entanto, o cirurgião acredita que o maior avanço a que iremos assistir, dentro de 5 a 10 anos, é a utilização de corações humanos crescidos em animais. "Imagine que eu consigo colocar genes humanos no local onde o coração de um porco se deveria desenvolver, para que se crie dentro de um porco um coração humano que seja possível transplantar numa pessoa", projeta o médico. Fica a imagem.