Cristas foi ao palco para o anunciar como "um homem combativo e que impõe respeito". A julgar pelo nível dos ataques políticos, Melo não a deve ter desiludido.
Diz que lhe mando um abraço. Foi o que ele disse. "Um abraço a Pedro Passos Coelho e uma saudação a Rui Rio", diretamente de Lamego. Os cumprimentos, que arrancaram um aplauso tímido na sala do 27º Congresso do CDS, não vieram de Assunção Cristas, líder do partido e ex-colega de governo de Passos, mas sim de Nuno Melo.
A organização do congresso "guardou" o eurodeputado para as oito da noite - prime time das televisões - e nada foi deixado ao acaso. Nuno Melo foi chamado ao palco pela líder do partido que o anunciou, não só como cabeça de lista do CDS às eleições europeias do próximo ano, mas também como "um homem de palavras rigorosas, combativo e que impõe respeito".
E Melo não deixou os créditos por mãos alheias. O primeiro alvo, parecia ser o governo do partido socialista de quem o eurodeputado centrista diz, "estamos mesmo muito distantes". Mas, sem grande esforço para ler nas entrelinhas, o recado mais direto era para Rui Rio: "Pactos com este PS de mão dada com o PCP e o Bloco seriam pactos com Belzebu".
Melo não tira o pé do acelerador e, ao mesmo tempo que reproduz uma das frases mais ouvidas neste congresso, "nós sabemos onde estamos e onde queremos estar", atira-se para um dos soundbytes do discurso: "Nós não somos o Bloco de Esquerda da Direita."
"Está tudo profundamente errado" nas esquerdas, continua Nuno Melo, que "não larga o osso" e continua a apontar ao PCP e ao Bloco de Esquerda. Sobretudo ao Bloco de Esquerda.
Melo decidiu citar - sem retweetar - um tweet de Joana Mortágua, vereadora da Câmara Municipal de Almada, onde esta dizia que "não sei se isto é politicamente incorreto, mas gosto quando não se vê o Cristo". Na verdade, Joana Mortágua usou o Instagram, mas para o efeito que Nuno Melo queria provocar, era indiferente.
Começou por deixar à vereadora do Bloco "toda a caridade cristã" do CDS, prometeu "todo o nosso combate político" e acabou Joana Mortágua por introduzir no combate político o tema da religião: "Com a religião não se brinca", gritou Nuno Melo, o que lhe valeu uma ovação de pé por parte do congresso.
A agulha voltou a virar-se para o Governo e Nuno Melo vinha preparado para o combate. O eurodeputado criticou a obrigatoriedade de limpar terrenos numa largura não inferior a 50 metros à volta das casas, armazéns, oficinas, fábricas ou estaleiros como medida preventiva de incêndios e adjetivou esta lei como "a mais estúpida de Portugal" e uma forma de o Governo se desresponsabilizar quando as coisas correrem mal: "sacudir a água do capote", diz Nuno Melo.
Num exercício de memória, Nuno Melo lembrou a postura do Partido Socialista na Europa e "a diferença extraordinária daquele tempo do 'não pagamos' e da malvada chanceler Merkel", para rematar com um ataque direto a António Costa, a personificação, diz Melo, de uma "troika sem troika".