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Chico Anysio supera Brecht na Assembleia do Rio de Janeiro

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Secretário estadual da Cultura - sim, da Cultura - confunde dramaturgo alemão com personagem de programa humorístico em discurso solene.

Nunca uma sessão da Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (ALERJ) causara tanta comoção: afinal, Jorge Picciani, Paulo Melo e Edson Albertassi, três caciques da política carioca, haviam sido presos horas antes.

Os três barões do Movimento da Democracia Brasileira (MDB), maior partido do país que acolhe o presidente Michel Temer e a maioria dos poderosos de Brasília, foram atingidos por denúncias de corrupção, associação criminosa e lavagem de dinheiro pela Operação Cadeia Velha, um desdobramento da Lava-Jato que investiga favorecimento a empresas de transporte da Cidade Maravilhosa.

Na ALERJ, portanto, a sessão foi acalorada, com troca de insultos entre apoiantes e opositores dos detidos.

Conhecida pela falta de cultura dos seus tribunos, houve discursos patéticos, repletos de imprecisões e erros de português documentados pelos jornais. Até que surgiu André Lazaroni (MDB), o secretário estadual da Cultura, que, a julgar pelo cargo que ocupa, iria acrescentar algo de mais erudito ao debate. E começou bem ao citar um dramaturgo alemão do século passado: "Ai do povo que precisa de heróis", disparou aludindo à judicialização da política local. "Como dizia", prosseguiu, "o dramaturgo Bertoldo Brecha".

Ora Bertoldo Brecha, como meio Brasil sabe, era personagem cómica de um programa do humorista Chico Anysio com nome inspirado em Bertolt Brecht (1898-1956), o autor da tal frase. Alertado para a gafe por um deputado, não se mostrou muito convencido. Para o homem forte da cultura do Rio, onde os poderosos são tão hábeis a descobrir brechas na lei, Brecht é Brecha e ponto final.

O correspondente da TSF no Brasil, João Almeida Moreira, assina todas as quintas-feiras no site da Rádio a crónica Acontece no Brasil.