Sporting vence FC Porto nos penáltis (5-4), depois de Coates marcar a cinco minutos dos 90. Montero bateu o penálti decisivo. Jorge Jesus regressa ao seu querido Jamor pela quarta vez.
Jesus encostou-se no banco para ver a reta final dos penáltis. Sozinho, à espera de boas notícias. O Jamor, já se sabe, massaja-lhe o lado bom do coração. Marcano falhou logo o primeiro e a cantiga começou a tocar na melodia certa. Nem Iker Casillas nem Rui Patrício defenderiam nenhuma bola dos batedores de serviço. Fredy Montero, um dos heróis da final da Taça de 2015, bateu o penálti decisivo (5-4) e meteu o Sporting na final da Taça de Portugal, onde já estava à espera o Desportivo das Aves. A final joga-se a 20 de maio, no Jamor.
O Sporting começou com Bruno Fernandes perto de Bas Dost, deixando o verbo pensar para Battaglia e Bryan Ruiz. Se o segundo parece estar talhado para se transformar num senhor médio, com um toque de bola sublime, o primeiro tem mais problemas. William faz sempre falta. E Bruno Fernandes é um dos que mais sente a sua falta.
SPORTING: Rui Patrício, Piccini, Coates, Mathieu, Coentrão, Gelson Martins, Bataglia, Bryan Ruiz, Acuña, Bruno Fernandes, Bas Dost
FC PORTO: Casillas, Maxi Pereira, Felipe, Marcano, Telles, Ricardo Pereira, Otávio, Óliver, Herrera, Brahimi, Soares
Para o quinto duelo da época entre FCP e Sporting, Sérgio Conceição apostou em Óliver ao lado de Herrera (mais fixo), soltando Otávio, um vagabundo que gosta de estacionar no espaço e tocar com qualidade. Os visitantes começaram melhor esta partida, com Óliver com muita participação. O espanhol associou-se muito bem com os colegas, juntou a equipa, deu dimensão ao futebol dos dragões.
Otávio foi o primeiro a estar perto do golo. A bola saiu pertinho do poste direito de Rui Patrício. Os primeiros 25 minutos tiveram um Porto melhor, mais ligado, mas havia pouca baliza. O ritmo também não era muito alto.
O jogo do Sporting estava pobre. E, lá está, de quando em vez lá se cedia à tentação de alongar na frente para a batalha de Bas Dost com os centrais do FCP. Bruno Fernandes, perto do holandês e longe do jogo, oferecia o seu futebol com diagonais e chegava perto das linhas. Perto do intervalo, o melhor momento do Sporting até então: Gelson trocou os olhos a Alex Telles e cruzou, tenso, para o segundo poste. Ninguém apareceu para encostar. O final da primeira parte chegaria entretanto, sem que se vivessem grandes momentos de futebol.
A segunda parte começou praticamente com as atenções viradas para Soares, que tem alguma apetência para marcar ao Sporting. Primeiro, ia-se evidenciando como o jogador chato, aquele que pressiona sempre, que morde os calcanhares dos defesas. Depois, porque apareceu isolado na cara de Rui Patrício, depois de um passe genial de Brahimi. Coates, num carrinho maravilhoso, tirou-lhe a oportunidade de celebrar mais um golo na capital. E, a nós, um título "Soares é mesmo fixe" -- o brasileiro marcara o golo da primeira mão (1-0). Mas, afinal, até é um bocadinho fixe, pois Felipe teve de ver um cartão amarelo porque estava com a camisola errada. O defesa central entrou em campo com a camisola 29, de Soares.
O primeiro remate à baliza chegaria apenas aos 63', por Mathieu. Sem perigo nenhum, mas este dado mostra bem o desacerto e a falta de andamento das equipas. Ou de inteligência e frescura para furar a última barreira rival.
Nesta reta final da segunda parte, entrariam em campo Aboubakar (Soares), Ristovski (Piccini), Sérgio Oliveira (Otávio), Montero (Coentrão) e Reyes (Óliver). Enquanto Jesus olhava para a frente, Conceição procurava refrescar as peças do xadrez. Os leões pareciam mais frescos. Porto ia ficando mais e mais desconfortável.
O golo que levaria este clássico da Taça de Portugal para o prolongamento e penáltis chegaria apenas aos 85', por Coates, depois de um canto de Bruno Fernandes. Marcano, que também falharia um penálti, errou na hora de aliviar com o pé direito e ofereceu a bolinha para o defesa uruguaio. A bola saiu direta ao poste, mas, caprichosa, foi lá para dentro, 1-0. Um dos deleites deste jogo, quase tão importantes quanto o golo, foi sem dúvida ver os pormenores de Bruno Fernandes e Bryan Ruiz. Às vezes basta ver como param a bola. A beleza nas coisas simples.
O prolongamento chegou e, logo a abrir, Gelson pôde encaminhar a coisa. Acuña cruzou, Bas Dost perdeu com a antiaérea azul e branca, mas a bola pingou para o segundo poste. O remate do aparentemente esgotado Gelson saiu torto. "Aparentemente" porque, de facto, aparentava, até por levar as mãos aos joelhos várias vezes, mas as pilhas nõa acabavam. Por esta altura Herrera já jogava perto de Aboubakar.
Com Doumbia em campo, o Sporting acabaria melhor. Mas a derradeira chance, talvez a mais importante do jogo, saiu do pé direito de Brahimi. O argelino, a pisar a linha da grande área, bateu forte e... por cima da baliza de Rui Patrício. Por centímetros. No banco do FCP levaram-se as mãos à cabeça.
O resto da história já se sabe:
Marcano: poste (que dia...)
Bruno Fernandes: golo
Alex Telles: golaço
Bryan: golo
Felipe: golo
Mathieu: golo
Reyes: golo
Coates: golo
Sérgio oliveira: golo
Montero... golo!
Jorge Jesus, que tem um encanto pela Taça de Portugal, chama-lhe uma "festa", vai estar pela quarta vez no Jamor. Com o Belenenses perdeu (0-1 vs. Sporting, Liedson), tal como na primeira vez que lá foi com o Benfica (1-2 vs. Vitória de Guimarães), algo que corrigiu no ano a seguir (1-0 vs. Rio Ave, Gaitán). Agora, terá um Sporting-Desp. Aves para voltar a ser feliz.