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"Ainda há muita hesitação" no novo governo da Alemanha

epa06772310 German Chancellor Angela Merkel smiles during the beginning of the weekly meeting of the German Federal cabinet, at the Chancellery in Berlin, Germany, 30 May 2018. EPA/FILIP SINGER Filip Singer/EPA

Dois meses e meio depois da formação do novo executivo, Angela Merkel está de visita a Portugal esta quarta e quinta-feira. A chanceler alemã ​​​​​irá passar por Braga, Porto e Lisboa.

Foram precisos seis meses de negociações, de avanços e recuos, para que fosse formado um novo governo na Alemanha. Há dois meses e meio no poder, Angela Merkel e a Grande Coligação (formada pela CDU, CSU e SPD) ainda estão a sofrer as consequências desse período de vazio de poder.

"Talvez ainda seja cedo para fazer uma avaliação", considera o politólogo Ulrich von Alemann, que afirma que "ainda se sente muita hesitação" e os partidos que formam o executivo "ainda se olham com muita desconfiança".

Ao mesmo tempo que os três partidos tentam fazer um caminho em conjunto, esforçam-se também para curar as feridas internas.

O SPD foi quem mais sofreu: perdeu as eleições legislativas com o pior resultado do pós-guerra, foi obrigado a recuar, depois de ter garantido que não faria novamente parte de uma GroKo (Grosse Koalition), perdeu o líder Martin Schulz (que tinha sido escolhido com 100% dos votos dos militantes) e ainda viveu uma divisão interna, com o confronto entre as alas pró e contra a integração no governo.

A CDU de Angela Merkel conseguiu um resultado agridoce, porque venceu, é certo, mas perdeu popularidade e foi acusada de falta de renovação. Apesar disso, o professor de ciências políticas da Universidade de Düsseldorf considera que "ela ainda tem idade para liderar outro governo", até porque na opinião de Alemann "os democratas-cristãos não têm outra escolha melhor, não têm outro líder que saiba comandar as tropas". E Annegret Kramp-Karrenbauer, escolhida pela própria Merkel para ser nova secretária-geral da CDU? O politólogo considera que "ainda tem muito tempo pela frente e não vai querer opor-se a Merkel".

Quem não vai facilitar a vida à chanceler alemã é a AfD. O partido populista de direita, que está pela primeira vez no parlamento (depois de ter conseguido 12% dos votos nas últimas eleições), realizou uma manifestação no último domingo, 27 de Maio. Ao lema "Zukunft Deutschland" ("o futuro da Alemanha") juntaram-se entre 5 a 8 mil apoiantes e 13 contramanifestações (que mais do que duplicaram estes números).

Para Ulrich von Alemann os partidos do poder têm dois caminhos: "Podem ignorar a "Alternativa para a Alemanha" ou lutar abertamente contra ela. Se lhe fizerem frentes, eles terão bastante presença nos média, mas, se os ignorarem, isso provocará certamente agitação e desacordo". "A decisão é muito difícil", remata o politólogo.