Dois meses e meio depois da formação do novo executivo, Angela Merkel está de visita a Portugal esta quarta e quinta-feira. A chanceler alemã irá passar por Braga, Porto e Lisboa.
Foram precisos seis meses de negociações, de avanços e recuos, para que fosse formado um novo governo na Alemanha. Há dois meses e meio no poder, Angela Merkel e a Grande Coligação (formada pela CDU, CSU e SPD) ainda estão a sofrer as consequências desse período de vazio de poder.
"Talvez ainda seja cedo para fazer uma avaliação", considera o politólogo Ulrich von Alemann, que afirma que "ainda se sente muita hesitação" e os partidos que formam o executivo "ainda se olham com muita desconfiança".
Ao mesmo tempo que os três partidos tentam fazer um caminho em conjunto, esforçam-se também para curar as feridas internas.
O SPD foi quem mais sofreu: perdeu as eleições legislativas com o pior resultado do pós-guerra, foi obrigado a recuar, depois de ter garantido que não faria novamente parte de uma GroKo (Grosse Koalition), perdeu o líder Martin Schulz (que tinha sido escolhido com 100% dos votos dos militantes) e ainda viveu uma divisão interna, com o confronto entre as alas pró e contra a integração no governo.
A CDU de Angela Merkel conseguiu um resultado agridoce, porque venceu, é certo, mas perdeu popularidade e foi acusada de falta de renovação. Apesar disso, o professor de ciências políticas da Universidade de Düsseldorf considera que "ela ainda tem idade para liderar outro governo", até porque na opinião de Alemann "os democratas-cristãos não têm outra escolha melhor, não têm outro líder que saiba comandar as tropas". E Annegret Kramp-Karrenbauer, escolhida pela própria Merkel para ser nova secretária-geral da CDU? O politólogo considera que "ainda tem muito tempo pela frente e não vai querer opor-se a Merkel".
Quem não vai facilitar a vida à chanceler alemã é a AfD. O partido populista de direita, que está pela primeira vez no parlamento (depois de ter conseguido 12% dos votos nas últimas eleições), realizou uma manifestação no último domingo, 27 de Maio. Ao lema "Zukunft Deutschland" ("o futuro da Alemanha") juntaram-se entre 5 a 8 mil apoiantes e 13 contramanifestações (que mais do que duplicaram estes números).
Para Ulrich von Alemann os partidos do poder têm dois caminhos: "Podem ignorar a "Alternativa para a Alemanha" ou lutar abertamente contra ela. Se lhe fizerem frentes, eles terão bastante presença nos média, mas, se os ignorarem, isso provocará certamente agitação e desacordo". "A decisão é muito difícil", remata o politólogo.