Sebastião Esteves é um dos habitantes de Pedrógão Grande que ficou sem casa no incêndio de há um ano. Esteve meio ano a dormir num quarto dum vizinho. Agora, finalmente tem uma casa construída, através de uma parceria entre a câmara e a Mota Engil.
Sebastião está a descansar quando batemos à porta. Pergunta quem é, vem à janela, apoia-se no parapeito. A casa dele ardeu há um ano. Pelo Natal, entregaram-lhe esta nova, no mesmo sítio. "Ficou bem", garante ele, ao mesmo tempo que convida para entrar e avisa: "Não faça caso que eu estou de cuecas".
Sebastião já se habituou à casa nova. A outra era bem diferente. Tinha dois quartos, esta só tem um. Tinha uma cozinha e uma sala grande. Esta tem cozinha e sala no mesmo espaço. Ao fundo, uma salamandra. "Mas tem um problema... A salamandra bota muito fumo fora, olhe como me põe a casa". Aponta para as paredes já negras.
Do teto, cai uma lâmpada sem candeeiro. Em cima da bancada da cozinha, uns fios contorcem-se para levar outra lâmpada para junto da banca. É essa que Sebastião costuma ter acesa. "Dá-me luz e vê-se bem com ela e gasta muito poucochinho". Insiste na ideia: "Aquela lâmpada gasta muito poucochinha eletricidade e dá uma luz que é uma maravilha".
Com 84 anos bem contados, não se dá a exigir luxos. Diz que a idade já só lhe permite pedir saúde.
Puxa duma cadeira, senta-se porque "as pernas não aguentam a coluna", olha à volta e do centro da sala vê tudo: o quarto, a casa de banho, o polibã, que diz que é jeitoso para tomar banho. Do centro da sala, Sebastião abraça a casa toda.