Política

"Profundamente errado". BE queria veto do Governo no Conselho Europeu

O deputado do Bloco de Esquerda (BE), José Manuel Pureza, discursa na Assembleia da República. António Cotrim/Lusa

Bloquistas lamentam que Executivo tenha dado "luz verde" ao acordo sobre políticas migratórias. CDS-PP também critica o documento, mas o parlamento português divide-se na análise.

O BE deixou hoje duras criticas ao Governo português, depois de Portugal ter sido favorável ao acordo alcançado na última madrugada no Conselho Europeu - e que teve como principais pontos de consenso a criação de centros de controlo para receber migrantes em países voluntários e o aumento do financiamento a países como Turquia, com o objetivo de conter os fluxos migratórios.

No parlamento, José Manuel Pureza, deputado do BE, lamentou que os líderes europeus "apliquem a política da extrema-direita sob o pretexto de travar a extrema-direita" e defendeu que o acordo devia ter sido vetado pelo Governo liderado por António Costa.

"Um ato profundamente errado do Governo português que, diante das chamadas plataformas multilaterais de desembarque -- que não são mais do que campos de detenção no norte de África -, devia ter vetado esta medida", disse o deputado e vice-presidente da Assembleia da República.

Nesse sentido, BE defende que Portugal deve reforçar a politica de acolhimento de imigrantes e rejeitar qualquer intenção de criar centros de detenção em território nacional. No parlamento, também o CDS-PP se juntou às críticas ao documento aprovado pelo Conselho Europeu. Nuno Magalhães, líder parlamentar dos centristas, lamenta que se trate apenas de um "conjunto intenções".

"Foi uma desilusão, porque reafirma princípios, nada parece ter mudado, as vergonhas a que temos assistido nos mares europeus vai continuar e é um conjunto de intenções. Algumas boas, outras más, mas, apenas isso, intenções", insistiu.

Pelo PS, Carlos César, líder parlamentar dos socialistas, fala em "progresso" e no reforço do espírito europeu, mas admite as dificuldades de implementação das medidas.

"Não será uma tarefa fácil, mas eu creio que já foi muito importante dar-se este passo quando se pensava que não se daria passo algum", afirmou o socialista, que acrescenta: "Penso que se trata de um acordo importante que representa um progresso. Na verdade, há mais União Europeia depois deste acordo do que antes dele".

Pelo PSD, a deputada e vice-presidente da bancada, Rubina Berardo, saudou a resposta conjunta do Conselho Europeu. "É uma questão positiva haver conclusões conjuntas por parte dos Estados-membros", disse, salientando que "tem de haver uma solução conjunta para um problema que é conjunto, não pode haver soluções unilaterais"..

A deputada lembrou também que medidas como o acordo com a Turquia já permitiram reduzir as migrações através de certas rotas do Mediterrâneo em cerca de 95%.