Os sul-americanos aplicaram a Portugal uma receita que os portugueses já utilizaram noutras ocasiões e com notório sucesso.
JUSTIÇA. É aquele conceito relativo no futebol, que pode ser lido de forma diversa. Portanto, mesmo compreendendo o desabafo de Fernando Santos, não vale a pena perder muito tempo a invocá-la para explicar os desfechos dos jogos. A realidade é que determina e ela pode passar, por exemplo, por ganhar com a pior exibição (com Marrocos) e perder com a melhor (com o Uruguai).
Os sul-americanos aplicaram a Portugal uma receita que os portugueses já utilizaram noutras ocasiões e com notório sucesso. Defender bastante bem e ser tremendamente eficaz no ataque. Confirmou-se que ter Godín e Giménez no eixo da defesa é meio caminho andado para instalar a "fortaleza". E que socorrer-se de Suarez e de (um inspiradíssimo) Cavani pode ser letal para qualquer adversário.
Três oportunidades provocaram dois golos e uma enorme defesa de Patrício. Sim, a contabilidade é implacável.
DECEÇÃO. Cumprimos os objetivos mínimos, aqueles que, se não fossem alcançados, constituiriam um escândalo à alemã. Mas cair nos oitavos não é propriamente grande consolação para um campeão da Europa. Como referi no início do Mundial, tudo o que fosse abaixo dos quartos de final (ou seja, um lugar entre os oito melhores do mundo) seria sempre dececionante para quem se apresentou na Rússia com um título continental.
Claro que, num jogo a eliminar, tudo pode suceder. Nunca há garantias. E Portugal até fez uma grande segunda parte, cometendo apenas um erro que ditou a sentença. Pelo menos, fica um ponto importante para reflexão que se prende com a arrumação futura da seleção.
O papel de Bernardo Silva merece alguma atenção, pois ficou evidente que dá mais ao coletivo quando atua na zona central. É diferente do que faz em Inglaterra, mas a seleção não é o City. Aliás, não foi Guardiola que disse que Bernardo joga onde for preciso?
O NÃO DUELO. Por ironia do destino, Ronaldo e Messi foram para casa no mesmo dia. Muito provavelmente, esfumou-se a derradeira hipótese de assistirmos a um frente a frente, num Mundial, daqueles dois homens que marcaram a última década da história do futebol.
É pena. Do ponto de vista das seleções, um Campeonato do Mundo merecia aquele duelo pelo qual se suspirava há muito tempo. Quer dizer, dois extraterrestres, olhos nos olhos, na grande celebração planetária. Resta-nos ficar de olho em Neymar e Mbappé. Pelo menos.
O FUTURO. A próxima etapa é o Europeu de 2020. De certa forma. E isto porque, para já, temos a estreia da Liga das Nações, a nova prova da UEFA, cuja utilidade é enorme na perspetiva de quem está a pensar...no Europeu. É o tempo de repensar e aproveitar o andamento competitivo para dar o passo rumo a uma nova fase da equipa nacional.
Daqui a dois anos, numa dimensão distinta - porque há mesmo diferenças substanciais entre um Europeu e um Mundial - Portugal entrará em campo com a incumbência de defender o título.
Daí que este "entretanto" da Liga das Nações possa ajudar à remodelação da defesa, ao ajuste do meio campo e, eventualmente, à definição da melhor maneira de rendibilizar um Cristiano Ronaldo, gradualmente diferente, mas ainda determinante.
É que em 2020 não podemos ser "reformados" tão cedo.