Depois de 14 meses de investigação, o Procurador-geral da República Pinto Monteiro anuncia, esta segunda-feira, uma decisão sobre o caso «Maddie», que poderá passar por novas diligências ou o arquivamento.
A Procuradoria-Geral da República (PGR) anunciará às 16:00 um defecho para a fase de investigação do quebra-cabeças relacionado com o desaparecimento de Madeleine McCann no dia 3 de Maio de 2007.
O caso poderá ser arquivado, de acordo com notícias surgidas recentemente, sendo também essa a convicção do antigo coordenador da Judiciária Gonçalo Amaral, uma hipótese entretanto desmentida por Pinto Monteiro, que garantiu ser «absolutamente prematuro» afirmar-se que esse será o destino do processo.
O relatório elaborado pela PJ já foi concluído e entregue aos magistrados do Ministério Público que dirigem a investigação, esclareceu Pinto Monteiro, adiantando que «só há arquivamento quando o Ministério Público disser que há arquivamento».
No entanto, o ex-coordenador da PJ de Portimão, que esteve à frente das investigações desde o início, acredita que o seu afastamento, em Outubro do ano passado, revelou que o caso será arquivado.
«No dia em que saí, soube que o processo ia ser arquivado», afirmou Gonçalo Amaral, numa entrevista ao Expresso no início deste mês, em que criticou a sua demissão: «Foi uma decisão injusta e perigosa».
Amaral foi demitido e afastado do caso pela direcção nacional da PJ na sequência de uma entre muitas trocas de acusações, tendo afirmado que a Polícia britânica - que havia colaborado nas investigações - andava «a fazer o que o casal [McCann] queria».
Passaram 14 meses de investigação, que implicou a constituição de três arguidos por suspeita de envolvimento no desaparecimento da criança - os pais, Kate e Gerry, e o luso-britânico Robert Murat, que morava perto do aldeamento turístico «Ocean Club», onde a família McCann passava férias, acompanhada de alguns amigos ingleses.
Madeleine McCann, na altura com quase quatro anos, desapareceu ao início da noite de 03 de Maio do ano passado do interior do apartamento, onde dormia acompanhada dos dois irmãos gémeos, mais novos, enquanto os pais e os amigos jantavam num restaurante próximo.
Da tese inicial de rapto, a investigação mudou de rumo no Verão passado, admitindo-se a possível morte da criança, com as suspeitas a recaírem sobre os pais.
O mistério e a aparente falta de pistas sólidas e motivações para explicar o desaparecimento da menina transformaram este caso num dos processos mais mediáticos de sempre.
Robert Murat, empresário no ramo imobiliário, chegou a servir de intérprete entre a família e as autoridades nos dias a seguir ao desaparecimento, mas 11 dias depois seria constituído arguido por suspeitas da sua implicação no caso.
O processo ficou também marcado por fortes críticas ao então director nacional da PJ Alípio Ribeiro, nomeadamente por ter afirmado que teria havido «alguma precipitação» na constituição como arguidos do casal McCann.
Alípio Ribeiro demitiu-se da direcção nacional da PJ em Maio, quase um ano antes de terminar o mandato, tendo sido substituído por José Maria Almeida Rodrigues.
O casal foi constituído arguido após terem sido recolhidos vestígios biológicos no apartamento do «Ocean Club» e no carro que alugaram 25 dias após o desaparecimento de «Maddie», analisados no laboratório forense britânico, em Birmingham.
Em Setembro, após receber os resultados das primeiras análises forenses, a Polícia Judiciária passou a centrar as suspeitas nos pais, por alegada ocultação do cadáver, admitindo a morte como «a causa provável para o desaparecimento da menina», o que gerou uma onda de críticas aos investigadores portugueses, a quem o casal acusou de «plantar provas» para os incriminar.
Os pais de «Maddie» decidiram então regressar ao Reino Unido, apesar de terem sempre garantido que só sairíam do Algarve quando encontrassem a filha.
O seu regresso a Portugal chegou a estar previsto em final de Maio para participarem numa reconstituição dos factos, mas a diligência seria anulada devido à falta de quatro amigos com quem o casal passava férias na Praia da Luz quando aconteceu o desaparecimento.
A actuação das autoridades portuguesas fez diversas manchetes nos jornais ingleses, que consideraram que estava a ser conduzida uma «investigação policial fraca».
Entretanto, os pais quer afirmam acreditar que a filha está viva, lançaram uma campanha em Estrasburgo a defender a criação de um sistema europeu de alerta para crianças desaparecidas, um sistema semelhante ao que existe nos Estados Unidos e em alguns países da Europa.