"Um pai contou-me que o seu filho foi morto a tiro à sua frente." António Guterres defende responsabilização dos autores da perseguição aos rohingya, mas o governo da Birmânia rejeita as acusações.
O governo de Myanmar rejeitou o relatório da Organização das Nações Unidas (ONU) que pede à justiça internacional que investigue e julgue o chefe do exército birmanês e outros cinco oficiais superiores por "genocídio", "crimes contra a humanidade" e "crimes de guerra" contra a minoria rohingya.
Um porta-voz do governo da Birmânia fala em "falsas alegações", justificando que Myanmar não permitiu a entrada dos investigadores da ONU.
"A nossa posição é clara, quero dizer claramente que não aceitamos quaisquer resoluções conduzidas pelo conselho de Direitos Humanos", afirmou Zaw Htay, citado pela Reuters. A Birmânia, assegura, tem "tolerância zero para qualquer violação de direitos humanos."
Como a equipa de investigadores da ONU não teve acesso a Myanmar, na base do relatório estão centenas de entrevistas a expatriados rohingya e imagens de satélite.
A Missão estima que cerca de 10 mil pessoas tenham sido mortas. Há relatos de violação em grupo, destruição de várias aldeias, escravização e assassinatos de crianças.
O secretário-geral da ONU defendeu na terça-feira a responsabilização dos autores da "horrenda perseguição" dos muçulmanos rohingya em Myanmar, enquanto a Suécia e a Holanda pediram que os crimes sejam encaminhados para o Tribunal Penal Internacional.
António Guterres, que voltou a classificar a crise dos rohingya como uma "limpeza étnica" durante uma sessão do Conselho de Segurança da ONU, e manifestou-se também no Twitter sobre o caso.
"Não consigo esquecer as histórias que os refugiados rohingya me contaram. Um pai começou a chorar ao contou-me que o seu filho foi morto a tiro à sua frente. Nunca vamos desistir do nosso trabalho para aliviar o seu sofrimento e acabar com esta tragédia", pode ler-se.