Três temas, três histórias e três registos: degustar um tomate coração de boi preparado pelo Euskalduna Studio no Hotel Vale do Gaio poderia ser a definição de perfeição. Ou quase...
A barragem do Vale do Gaio não é propriamente ponte de passagem entre destinos turísticos. É preciso sair da estrada entre o profundo Torrão no Alentejo e a cidade que fica junto ao rio Sado a poucos quilómetros da costa. Mas a questão é que nesse desvio se vai encontrar uma paisagem improvável entre as águas azuis da barragem, as encostas castanhas que limitam as águas e se encontram com uma vegetação que se aproxima do mar.
A não ser que a autocaravana ou o campismo selvagem seja uma opção, a forma de pernoitar naquelas paragens tranquilas é no Hotel Vale do Gaio gerido pelo casal Cláudia e Vasco Gallego. Sobretudo para os lisboetas ou residentes em Lisboa, o nome não passará despercebido. Vasco esteve à frente do restaurante XL em Lisboa, junto ao Parlamento, palco de encontros mundanos e não só, mas onde o "restaurateur" conviveu, recebeu clientes e fez muitos amigos. Grande parte deles também já passaram no Vale do Gaio, entre os quais o secretário-geral da ONU - que desde o XL passou de freguês a amigo.
O hotel fazia parte da rede de Pousadas de Portugal e Vasco, quando percebeu que as Pousadas de Portugal iam ser transacionadas, tentou perceber se havia hipótese de a comprar. Inicialmente a resposta foi que o negócio incluía a totalidade das pousadas, mas o grupo Pestana acabou por não se interessar pela pequena pousada de Vale do Gaio. Foi o empresário que ganhou o concurso público para a compra. "A primeira vez que ganhei alguma coisa na vida", garantiu.
Hoje tem 14 quartos, piscina, muitas atividades e um imperdível restaurante numa enorme esplanada sobre a barragem.
Vasco Gallego entregou a gestão do restaurante XL em Lisboa ao filho Salvador que, com apenas 27 anos, assumiu a responsabilidade acrescida de dirigir um espaço clássico de Lisboa. Vasco continua a passar por Lisboa, mas com a vantagem garantida de se "curar" do bulício de Lisboa: a serenidade do Vale do Gaio.
Um sério candidato
O Euskalduna Studio não é um restaurante qualquer. Vasco Coelho Santos apostou num tipo de espaço moderno, mas pequeno. Com meia dúzia de lugares (oito no balcão, mais 8 nas mesas), é um modelo que tem vindo a surgir noutros países como por exemplo New York, onde os chefs preferem estar mais focados na criação e, ao mesmo tempo servir os clientes com mais dedicação. Os principais beneficiados são, claro, os fregueses servidos com uma exclusividade rara.
O Euskalduna Studio abriu há quase três anos na Rua de Santo Ildefonso, 404, na zona de São Lázaro no Porto e promete vir a ser um caso sério. Há quem o aponte para as estrelas, mas ainda é cedo para perceber se o guia Michelin se "chega à frente" este ano. Vasco confirmou a visita dos inspetores do guia da marca de pneus, que se identificaram pelo menos uma vez. Nada é garantido, mas a gala da entrega dos prémios estar marcada pela primeira vez em Portugal e pode ajudar.
Vasco Coelho Santos terminou o estágio de curso no Tavares Rico com o "estrelado" José Avillez e fez formação em alguns dos melhores restaurantes do mundo como Mugaritz e Arzak no País Basco e El Bulli na Catalunha. Os chefs Andoni Aduriz, Juan Mari Arzak e Ferran Adria foram alguns dos mentores que o inspiraram ao longo de três anos. Regressou ao Porto, onde viveu e nasceu esteve no restaurante Pedro Lemos e aina teve tempo para em 2013 explorar sabores e paladares na Europa e na Ásia.
Abriu o Euskalduna no final de 2016 e, recentemente, a versão menos exclusiva, Semea by Euskalduna, pensado, refere o próprio, como "um espaço de partilha através da criação de memórias com familiares e amigos".
Tomates a sério
Quem nunca provou o tomate Coração de Boi não sabe verdadeiramente o que perde. Suculento, equilibrado, sumarento, um verdadeiro pitéu, obviamente para quem o fruto é uma referência na alimentação.
Recentemente, a III Edição do Concurso Tomate Coração de Boi premiou a Quinta do Orgal, propriedade da Quinta do Vallado. Francisco Ferreira, o trineto de uma das figuras mais emblemáticas do Douro no início do século XX, Dona Antónia Ferreirinha, produz o tomate que venceu o concurso. Incrivelmente, surpreendentemente, entre risos, confessou que não gosta de tomate. Mas nada o impede de reconhecer o equilíbrio, acidez e doçura, de resto características que também se apreciam no vinho.
Estrangeiros "siderados" com os tomates do douro, pessoas de Lisboa, Porto e outras cidades que foram à Quinta do Vallado só para saborear o produto. Um dos organizadores, a par da antiga jornalista Celeste Pereira, também proprietário de uma quinta no Douro - Foz Torto, Abílio Tavares da Silva, fala do concurso como um encontro de amigos onde se conversa e convive sem a pressão de outros concursos a que estão mais habituados como o vinho DOC e Vinho do Porto. A quarta edição promete ser um sucesso ainda maior.