Salvo uma mudança radical de última hora, dois cenários principais se avizinham na primeira volta das eleições presidenciais brasileiras deste domingo. Ou o capitão reformado do Exército Jair Bolsonaro (PSL, Partido Social Liberal) vence a disputa com mais de 50% dos votos válidos, ou irá para uma segunda volta no dia 28 contra o candidato Fernando Haddad (PT, Partido dos Trabalhadores).
São cenários que assustam muitos observadores da cena política brasileira. Bolsonaro, depositário de um voto de indignação contra o sistema político brasileiro, tem um longo histórico de polémicas e declarações que lhe valeram a pecha de fascista.
Tão importante quanto isso é a incerteza sobre como seria o seu governo, dada sua total inexperiência administrativa.
Já Haddad impressiona mal por causa da sua entourage. A ausência de autocrítica devido aos enormes erros do PT, que legaram ao país o maior escândalo de corrupção da história do país e uma devastadora crise económica, sinalizam soberba e, pior, a repetição de equívocos.
Além disso, o candidato é visto como uma marioneta do ex-Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, preso por corrupção.
Assim, o Brasil caminha, caso haja a segunda volta, para uma disputa entre rejeições. A polarização é clara na mais recente pesquisa do instituto Datafolha: 45% rejeitam Bolsonaro, enquanto 40% rejeitam Haddad. Ao mesmo tempo, estão convictos do seu voto 86% dos eleitores do candidato do PSL e 83% daqueles que votam no PT.
É um quadro desalentador, pois indica a dificuldade que o próximo Presidente terá em unificar politicamente o país. É certo que não o fará.
Resta saber como será a governabilidade. Aí, o cenário pode tender à acomodação que marca a política brasileira. Neste momento, as projeções para a eleição na Câmara dos Deputados e no Senado indicam uma fragmentação extrema, sem que nenhum partido sobressaia demasiado em relação aos outros.
Por ora, Bolsonaro leva vantagem, uma vez que siglas de espectro mais conservador tenderão a dominar o Parlamento. Na última semana, ele recebeu o apoio de duas poderosas frentes com esse sinal ideológico: a dos parlamentares ligados ao agronegócio e a daqueles que são evangélicos pentecostais e neopentecostais.
Ele conseguiu até o endosso do dono da TV Record, o bispo que controla a Igreja Universal do Reino de Deus. Não por acaso, ele concedeu uma entrevista polémica veiculada no mesmo horário do debate final entre presidenciáveis, ao qual faltou alegando incapacidade devido à recuperação da facada que sofreu no mês passado. Já se diz que a TV Record vai ser a "Fox News tropical".
Candidatos a governador de partidos cujos candidatos ficaram pelo caminho, como o PSDB de Geraldo Alckmin, já declaram abertamente apoio a Bolsonaro.
O nó é saber como seria feita a articulação política, já que o candidato diz rejeitar a troca de cargos federais por apoio, o modus operandi brasileiro. Uma ideia é angariar votos suprapartidários, baseados em promessas setoriais. Esta possibilidade, contudo, esbarra no espaço fiscal do país.
Já Haddad terá inicialmente mais desconfiança, caso seja eleito Presidente. O PT já está aliado a velhos conhecidos dos escândalos do passado, como as fações nordestinas do Movimento Democrático Brasileiro. É possível achar que a recomposição com antigos aliados, hoje opostos a si, acontecerá.
O mais importante é ler os sinais da economia, não só no curto prazo, mas no médio e longo. O mercado financeiro já avaliou Bolsonaro de forma positiva, mas certamente reagirá de igual forma se Haddad deixar as bandeiras esquerdistas de lado, caso vença a batalha. Até tudo isso se definir, a turbulência está contratada.