Em Portugal suja-se frequentemente o que é branco e branqueia-se o que é sujo.
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A sociedade da desconfiança em que vivemos permite que a praça pública faça julgamentos mediáticos sumários com simples palpites que passam do futebolês para o politiquês e reduzem o jornalismo ao perigoso jornalez.
É preciso combater a demagogia da mediocracia, mas para isso precisamos sempre de reavivar a memória e lutar contra o esquecimento. Não se pode esquecer em muitas vítimas de hoje os carrascos cruéis de ontem e vice-versa.
O sistema que faz mitos é geralmente o mesmo que os desfaz, quando simples mortais passam da chamada fase heróica ao seu momento trágico. Esta fatalidade que já vem da mitologia grega tem na sociedade da desconfiança o seu ideal coro popular. E só a passagem do tempo permite sacudir a poeira mediática que fica da espuma dos dias.
Vale a pena dizer isto hoje e, certamente, repeti-lo amanhã para que a vida colectiva não seja mais uma fogueira de vaidades nesta nova idade media.
Idade dos media, naturalmente.
Repito, por isso, com pia convicção que se Kafka fosse vivo não escreveria o Processo nos corredores de um tribunal, mas certamente situaria o seu célebre romance nos labirintos do espaço mediático.
Palavras Cruzadas
Crónica diária, de segunda a sexta, às 10h30m