José Rodrigues dos Santos justificou, esta segunda-feira, a sua demissão da RTP com a nomeação, por parte da administração, de um correspondente em Madrid contra a opinião da direcção de informação. Já Almerindo Marques, presidente do conselho de administração, prefere falar na escolha como um acto de gestão de recursos humanos.
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Numa audição perante a subcomissão parlamentar de Direitos Fundamentais e Comunicação Social, José Rodrigues dos Santos disse que o «conselho de administração estava a nomear uma pessoa não à revelia da direcção de informação, mas contra a sua opinião».
Na sua intervenção, Rodrigues dos Santos explicou longamente o processo de funcionamento dos concursos internos para a escolha dos correspondentes da RTP - uma prática levada a cabo por si quando assumiu as funções de director de informação -, sublinhando que nunca antes tinham sido colocadas em causa por parte da administração.
«Se não consigo escolher as pessoas que acho adequadas para determinada função, não posso ter responsabilidades sobre esses conteúdos», acrescentou.
Rodrigues dos Santos revelou, ainda, que soube da escolha da administração por um um despacho afixado num placard de corredor e que obteve explicações que «não foram convincentes».
Perante a insistência dos deputados da oposição neste ponto, José Rodrigues dos Santos garantiu que não sentiu quaisquer pressões directas por parte do poder político para se demitir.
Ainda assim, o deputado do PS, Arons de Carvalho concluiu que o caso do correspondente da RTP em Madrid foi apenas um pretexto para afastar José Rodrigues dos Santos, Judite de Sousa e a restante direcção de informação.
Acto de gestão de recursos humanos, diz administração
Igualmente presente no Parlamento, o presidente do conselho de administração da RTP, Almerindo Marques, justificou a nomeação do correspondente em Madrid, contra a direcção de informação, como «um acto de gestão de recursos humanos».
«A nomeação de correspondentes, desde que salvaguardados os critérios editoriais, é um acto de gestão de recursos humanos», argumentou.
Almerindo Marques disse ainda que a empresa teria graves problemas internos se os concursos para a colocação de correspondentes no estrangeiro resultasse numa classificação ordinal de jornalistas.
«Se a administração fosse levada a aceitar uma classificação ordinal (nos concursos), isso criaria problemas com outros correspondentes e levaria a que se gerassem ódios dentro da empresa», justificou.
O presidente do conselho de administração da RTP fez saber que só poderia ir mais longe neste aspecto se a reunião decorresse à porta fechada, mas a maioria e oposição rejeitaram a proposta.