Quase três anos depois do escândalo de abuso de prisioneiros, a ex-comandante norte-americana da prisão de Abu Ghraib, Janis Karpinski, disse ao jornal brasileiro Folha de São Paulo que a tortura continua a ser praticada naquele estabelecimento prisional.
Corpo do artigo
Questionada sobre se continua a praticar-se a tortura, a coronel Karpinski respondeu: «É justo dizer que sim, porque há soldados e oficiais que regressam e afirmam sob juramento que foram testemunhas de torturas e obrigados a aceitar que os seus soldados praticassem este tipo de violência».
As torturas prosseguem «porque o secretário da Defesa (Donald Rumsfeld) e o seu especialista em informação Stephen Cambone crêem que estas pessoas são terroristas e têm informações e que a única maneira de as obter é através da tortura», explicitou a antiga comandante.
«Os especialistas em interrogatórios dizem que a tortura não funciona, mas o Pentágono parece ter o seu próprio ponto de vista e não se incomoda com o que dizem», sublinhou.
Além disso, assegurou, «cerca de 80 por cento dos prisioneiros de Abu Ghraib são completamente inocentes e não têm a mínima informação ligada ao terrorismo».
Janis Karpinski considerou, por outro lado, que a administração norte-americana cometeu um erro ao não enviar (para o Iraque) mais 100.000 soldados em Junho de 2003 para combater a revolta.
«Não havia e não há tropas para fazer frente à revolta que se desenvolver e que é cada vez mais eficaz», disse ainda na entrevista hoje publicada.
A coronel Karpinski dirigia a polícia militar da prisão de Abu Ghraib quando rebentou o escândalo e foi a única graduada no seio da hierarquia militar norte-americana a ser sancionada pelos maus-tratos, tendo sido despromovida de general a coronel por decisão do presidente George W. Bush.