Os trabalhos de restauro, que estão a ser feitos pela Fundação Gulbenkian permitiram descobrir que Amadeo de Souza-Cardoso repintava as telas que usava, às vezes muitos anos depois. Das 90 telas já analisadas, 25 tinham por baixo outras pinturas.
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O quadro «Os Galgos» (com data provável de 1908-09), onde aparecem dois cavalos e uma charrete, tinha afinal por baixo o perfil de uma mulher. Esta é uma das obras mais importantes de Amadeo de Souza-Cardoso, que foi agora analisada através de radiografia e infravermelhos.
«Uma das obras tem uma figura feminina, com um bom delineamento do corpo e dos ombros, chegámos ao pescoço e, quem diria, essa obra ia dar uma das obras mais importantes de Amadeo, que é 'Os Galgos'», explicou António Cardoso, director do Museu Amadeo de Souza-Cardoso, em Amarante.
O director ficou surpreendido com a descoberta da Fundação Gulbenkian e acha que a análise das novas pinturas de Amadeo, escondidas debaixo das telas já antes conhecidas, pode ajudar a perceber a evolução artística do pintor.
«O confronto entre estas imagens que nos aparecem escondidas, podem ajudar-nos a confirmar e a afirmar a sua evolução artística», explicou.
Quanto à reutilização das telas, António Cardoso encontra duas explicações possíveis, ou o pintor queria corrigir a obra que não gostava, ou havia falta de materiais, sobretudo no período da I Guerra Mundial.
«Há telas nitidamente feitas talvez com os lençóis lá da casa, tal como ele trabalha às vezes a cor servindo-se apenas de pigmentos que ele próprio prepara. Ele próprio faz alguns materiais», adiantou António Cardoso.
Por razões económicas ou artísticas, o certo é que a descoberta de novas obras de Souza-Cardoso pode representar uma nova pincelada na história daquele que é o grande pioneiro da pintura portuguesa do século XX.
O trabalho realizado com «Os Galgos» vai estar patente numa exposição, no Centro de Arte Moderna, da Fundação Calouste Gulbenkian, em Janeiro de 2004, mas ainda sem data definitiva.