Entrevistado na TSF, o candidato presidencial do PCP diz que Jorge Sampaio deve agir sem conotação política. António Abreu quer Portugal fora da NATO e da Bósnia e diz-se desiludido com o Presidente da República.
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António Abreu, 53 anos, não se candidatou por iniciativa própria. Foi nomeado por Carlos Carvalhas para representar o PCP e, apesar de ter ficado «surpreendido», aceitou «de imediato».
Este engenheiro químico nascido em Lisboa, mantém a intenção de não responder às perguntas sobre uma eventual desistência «em cima das urnas». António Abreu estranha mesmo que a questão não seja colocada aos outros candidatos.
O membro do Comité Central do PCP refere ser «honesto que o eleitorado saiba com o que pode contar», mas sublinha não querer ver eliminados «direitos que limitam muito o espaço de afirmação própria».
Apesar de ser a sua primeira ida às urnas presidenciais, António Abreu, vice-presidente da Câmara Municipal de Lisboa, já foi mandatário das campanhas de Angelo Veloso e de Carlos Carvalhas.
Contra a abstenção
Relativamente a 2001, o candidato admite que Jorge Sampaio possa vencer: «essa consideração tem sido feita por uma generalidade de pessoas», diz referindo que «o acentuar dessa perspectiva de haver candidatos eleitos à partida contribui fortemente para a abstenção». No entanto, esclarece: «não deixo de ser realista na consideração das possibilidades dos vários candidatos». Ao mesmo tempo destaca que o desempenho de Jorge Sampaio o desiludiu.
Conhecedor da acção do actual Presidente da República (com quem trabalhou na autarquia lisboeta), António Abreu nega que o seu manifesto eleitoral seja um programa de governo, explicando que o documento «enuncia os temas em que o Presidente da República deve intervir».
Para o candidato comunista, o PR tem que pressionar o Governo e sensibilizar a opinião pública para os casos mais polémicos: «entendo que exercer a Presidência da República não é apenas verificar se as instituições estão a funcionar normalmente. É preciso intervir com efeitos de reflexão pública», diz.
Presidente com cartão mas sem partido
António Abreu não se mostra adepto nem do aumento nem da redução dos poderes presidenciais. Para ele, «os poderes estão bem como estão, o que é preciso é exercê-los sem conotação política». O candidato afirma que conseguirá ser independente e que, caso seja eleito, não entregará o cartão de militante do PCP.
Reconhecendo diferenças entre as candidaturas do PS e do PSD, António Abreu diz haverem «coincidências que são perigosas», nomeadamente quanto ao processo de privatizações o que, na sua opinião, significa entregar as bases de afirmação estratégica do país às multinacionais. «E depois não venham dizer que o poder económico não está subordinado ao poder político», conclui. Outra questão que Abreu gostaria de ver discutida durante a campanha eleitoral é o conceito de «despesismo».
Cavaco melhor que Ferreira
Sobre Ferreira do Amaral, o candidato do PCP diz que o candidato social-democrata «não tem as mesmas possibilidades eleitorais» que Cavaco Silva apresentava quando concorreu a Belém. Quanto às candidaturas mais à sua esquerda, afirmou que «são de importância relativa», para depois dizer que Fernando Rosas e Garcia Pereira «enquadram-se em parte» na sua candidatura.
As críticas aumentam de tom quando é questionado sobre a presença de Portugal na NATO. Na opinião do candidato, a Organização do Tratado do Atlântico Norte está a adoptar uma intervenção «num outro espaço soberano com argumentos de natureza política, à revelia do Direito Internacional». Por isso, critica a actuação de Jorge Sampaio durante o conflito nos Balcãs. António Abreu concorda com a presença de militares portugueses em Timor, mas não na Bósnia.
Conseguir até 15 por cento
Confrontado com as sondagens, que «são importantes instrumentos de trabalho em certas ocasiões», Abreu diz que «um bom resultado é entre sete e 15 por cento» e justifica uma actual fraca popularidade com o argumento de que «até aqui houve pouca atenção pelas eleições».
Longe de pretender gastar os 280 mil contos máximos permitidos, o candidato do PCP diz que a campanha eleitoral será paga pelo partido.
António Simões Abreu concorda com a presença de Jorge Sampaio na inauguração do Porto 2001, a 13 de Janeiro e diz que irá à cerimónia se for convidado. Até lá, continuará a ler os livros de José Saramago, apesar de o Nobel da Paz este ano apoiar a candidatura socialista.