Os árbitros internacionais portugueses reafirmaram a sua recusa em ajuizar partidas do V. Guimarães, tendo assegurado, ao mesmo tempo, que não vão ceder até que se proceda a uma anulação geral dos processos disciplinares por erros de facto.
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O V. Guimarães foi, de resto, o único clube português a instaurar, até à data, processos disciplinares contra árbitros, o que levou a uma tomada de posição extrema dos internacionais.
A decisão, que poderá vir a ser apoiada por outros árbitros, foi explicada esta segunda-feira, na sede da APAF. Os juizes entendem que os regulamentos portugueses têm sido explorados e que há contradições entre essas mesmas regras e as do International Board - organismo que tem a seu cargo as leis gerais do futebol.
Vítor Reis (na foto) explicou as Leis do International Board estipulam que o árbitro não pode ser inculpado por decisões tomadas de acordo com as regras do jogo ou com as suas obrigações, definidas pelos regulamentos da Federação Internacional de Futebol (FIFA) ou de organizações nacionais.
Contudo, o artigo 155º dos regulamentos da Liga Portuguesa de Futebol Profissional prevê uma suspensão de dois a 10 jogos do árbitro que «na elaboração dos seus relatórios incorra em erros técnicos ou de facto».
É esta mesma contradição, assim como a necessidade de uma denúncia prévia por parte da Comissão de Arbitragem, para a instauração de um processo disciplinar aos árbitros - tida como um procedimento «estranhíssimo» - que a APAF pretende ver concluídas.
A APAF admitiu a dificuldade de modificação dos regulamentos a meio da temporada, mas deixou, desde já, um aviso: «os árbitros não aceitarão» que na regulamentação a aprovar na próxima época existam preceitos que possibilitem a instauração de processos por erros de facto.
Os árbitros também não negaram que as queixas apresentadas pelos minhotos são compatíveis com os regulamentos, ressalvando, todavia, que os processos disciplinares iniciados ao abrigo de regras «obsoletas», têm apenas por intuito «implementar uma forma de pressão nefasta sobre a estrutura de arbitragem».
«O clube em causa usa de há muito expedientes artificiais para justificar constantes desaires da sua equipa», sustentou Vítor Reis.
Vítor Reis revelou, ainda, que já recebeu indicações de outros árbitros que desejam juntar-se ao bloqueio, e que a APAF recorrerá aos tribunais por causa das declarações «ofensivas» proferidas contra a arbitragem pelo Vitória de Guimarães.
E no caso de possíveis processos aos árbitros, por recusarem dirigir os encontros dos vimaranenses, Vítor Reis foi sucinto: «A APAF estará aqui para dar apoio aos seus associados».
Os árbitros que recusam arbitrar partidas do clube que é presidido por António Pimenta Machado são Lucílio Baptista, Paulo Paraty, António Costa, Paulo Costa, Olegário Benquerença, Duarte Gomes, João Ferreira, Pedro Proença e ainda Bruno Paixão, que muito em breve vai passar a ter o estatuto de internacional.
Em consequência de todos os factores referidos anteriormente, Vítor Reis manifestou, esta segunda-feira, o seu apoio pessoal à probabilidade de árbitros dirigirem jogos em ligas domésticas fora do seu país.
«Em termos pessoais, vejo genericamente a medida como salutar, devido às trocas de experiência entre as várias arbitragens», defendeu o presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF).
O conquistar de experiência em outros campeonatos, sem ser em encontros internacionais, é outro dos aspectos positivos que foi invocado pelo responsável.
«Não penso que esta situação traga instabilidade ao grupo de trabalho dos árbitros», comentou.
A 28 de Novembro, a UEFA apresentou a sugestão de árbitros internacionais poderem ajuizar embates domésticos fora do seu país, durante uma reunião do Comité do Futebol Profissional, realizada em Nyon (Suíça), recebendo desde logo boas reacções.