Teresa Cunha, afirmou que Margaret Thatcher ou Madeleine Albright, não «encarnam» a possibilidade que as mulheres têm de contribuir para um exercício do «poder com ternura».
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Teresa Cunha, presidente da Acção Jovem para a Paz (AJP), afirmou hoje em Coimbra, que Margaret Thatcher ou Madeleine Albright, não «encarnam» a possibilidade que as mulheres têm de contribuir para um exercício do «poder com ternura».
Teresa Cunha falou no âmbito da iniciativa «Sem preconceitos», um seminário promovido por aquela organização não governamental e a que se segue, amanhã, uma conferência sobre o papel das mulheres no desenvolvimento de Timor-Leste.
Tanto no seminário, como na conferência, a decorrer nas instalações do Grémio Operário, na Alta de Coimbra, participam cidadãos, na sua maioria jovens, vindos não só de Portugal, como também França, Alemanha, Espanha, Bélgica, Suécia, Hungria e Angola, além do futuro Estado independente de Timor Lorosae.
Ao intervir na abertura dos trabalhos, a líder da AJP (que sucedeu em Portugal ao antigo Movimento Cristão para a Paz) tentou demonstrar que, tal como crêem os Onas, um povo do extremo sul da Argentina, as mulheres, embora parecendo mortas, derrotadas, estão apenas escondidas, como a Lua (Krah), por algum tempo e podem reaparecer a qualquer momento.
Teresa Cunha alertou «não é verdade que estamos mortas, mas também não é verdade que estejamos num estado de completo respeito pelos nossos direitos».
Teresa Cunha baseou-se nas «Lendas da Terra do Fogo», de Arnold Canclini, que reconstituem a crença dos Onas numa antiga «Luta entre a Lua e o Sol» (Krah e Krren, respectivamente), que ditou a vitória dos homens sobre as mulheres, e na posterior «Vingança de Krah».
Numa alusão àquela lenda, frisou que «continua a ser relevante a discussão das questões das mulheres», apesar da consagração dos seus direitos na lei.
«Continuamos a ver os homens destronar as mulheres, a proibi-las, como na lenda, de entrarem na cerimónia do poder», acrescentou a presidente da AJP.
Acentuou que, também na civilização ocidental, «esta história repete-se todos os dias». A violência doméstica «é contra as mulheres».
A violência chega ao desejo de «eliminação ou mesmo à eliminação física», advertindo que «as mulheres não querem exercer o poder da mesma forma que os homens».
Armandina Gusmão (irmã do líder timorense Xanana Gusmão), Mary Robinson (Alta Comissária das Nações Unidas para os Direitos Humanos) e a guatemalteca Rigoberta Menchu (Prémio Nobel da Paz), são exemplos de mulheres que, na opinião de Teresa Cunha, simbolizam esse «estilo diferente» de exercer o poder.
«Nesse poder, é possível manter a política com ternura, sem a sua masculinização no pior sentido» observou.
Das figuras mundiais, Teresa Cunha escolhe, entre os homens, como «bons exemplos» para a realização desse ideal, o bispo brasileiro D. Hélder da Câmara, o líder indiano Gandhi e Xanana Gusmão, de quem é amiga há vários anos.
A antiga primeira ministra britânica, Margaret Thatcher, e a secretária norte-americana, Madeleine Albrigt, estão excluídas, à partida, dessa «galeria», de que fazem partem, na sua opinião, os portugueses Luísa Teotónio Pereira (presidente da Plataforma Portuguesa das ONG para o Desenvolvimento) e Alípio de Freitas (ex-padre e protagonista da resistência à ditadura militar brasileira).
«Estamos a precisar de pessoas que arrisquem outros estilos, que arrisquem perder o poder, mas precisamos de uma revolução ética nesse sentido», defendeu Teresa Cunha.