Já se sabia que doses elevadas de aspirina tinham efeitos contra a diabetes, mas um estudo publicado na revista «Science» lançou um pouco mais de luz sobre os efeitos deste «cura-tudo» numa doença que provoca a morte a mais de três mil portugueses por ano.
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Há muito tempo que os cientistas sabem que a aspirina reduz os níveis de acúcar no sangue, mas as altas doses exigidas para obter este efeito, tornavam-no numa alternativa perigosa devido aos efeitos secundários.
O estudo conduzido por cientistas californianos e de Harvard aponta o caminho para novos medicamentos, pois explica como é que a aspirina age, restando agora criar medicamentos semelhantes mas sem os efeitos secundários de doses exageradas de aspirina.
Segundo um investigador da Harvard Medical School, Steven E. Shoelson, «os resultados que observámos ajudam-nos a compreender o que causa a insensibilidade à insulina nos indíviduos obesos».
A insulina é uma hormona que é necessária para converter acúcar, e todo o tipo de alimentos, em energia utilizável pelos diabéticos. Na diabetes adulta do tipo 2, acontece uma desordem do metabolismo que impede o corpo de produzir (ou de fazer bom uso da) insulina.
A resistência à insulina - quando o corpo não utiliza correctamente a insulina de que dispõe - é um fenómeno em crescimento. Causas prováveis para o aumento desta patologia são: estilo de vida sedentário, obesidade, dietas ricas em gorduras ou simplesmente idade avançada.
«Nós temos a primeira prova que liga a resistência à insulina a um atalho inflamatório, revertendo a tolerância à insulina com aspirina, um medicamento anti-inflamatório. E embora não recomendemos a aspirina como um tratamento, as nossas descobertas são importantes porque
identificam um alvo molecular», disse Shoelson.
Segundo o cientista, para fazer baixar o nível de acúcar no sangue, seria necessário ingerir entre seis e oito gramas de aspirina durante um longo período. Cada comprimido de aspirina tem 0,33, aproximadamente, o que tornaria a dose diária perigosa para a saúde do diabético.
Portugal também na vanguarda no tratamento da diabetes
Em Portiugal há um grupo de investigadores (Centro de Química Estrutural do Instituto Superior Técnico, Universidade de Coimbra, Universidade do Porto, Universidade do Algarve) que estudam a acção de compostos de vanádio como mimetizadores da insulina, com vista à posterior obtenção de um fármaco oral.
«O objectivo central do projecto é a obtenção de novos complexos que conciliem uma acção eficaz, na normalização dos níveis de glucose, com uma toxicidade mínima», explicou à agência Lusa o investigador responsável pelo projecto, João Costa Pessoa.
Em Portugal existem entre 400 a 500 mil diabéticos, e esta doença é a primeira causa em amputações não traumáticas, insuficiência renal e enfarte do miocárdio, em indíviduos com menos de 40 anos. A Associação Norte-Americana para a Diabetes prevê que, dentro de 20 anos, o número de diabéticos em Portugal ronde os 700 mil.