O encerramento do XVI Congresso do PCP viu uma multidão emocionada movendo-se ao som do hino do partido, punhos no ar e um olhar expectante para o futuro. Chegou o momento de dizer «até amanhã camaradas!».
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Passava pouco das 13:00 quando a mesa do XVI Congresso do PCP dava por encerrados os trabalhos. O reeleito secretário-geral, Carlos Carvalhas, rematou o encontro comunista com um discurso conciliador, saindo em defesa das posições renovadoras, defendendo e sublinhando uma matriz de partido democrático-constitucional mais aberto.
Mas também fez um balanço crítico não escondendo as alegadas fragilidades do partido, dando um voto de confiança aos presentes. «Não escondemos dificuldades, nem disfarçámos debilidades, mas também estamos prontos com determinação de trabalhar para não deixar perder as possibilidades e potencialidades para o nosso aumento de influência para responder com êxito aos desafios que a vida nos vai colocar», afirmou Carvalhas.
O encerramento viu, em apoteose, uma multidão de braços unidos e punho no ar movendo-se, primeiro, ao som do hino do partido, seguido da «Internacional» e ainda, a terminar, o hino nacional português.
A emoção estava estampada em alguns rostos que entretanto diriam «Até amanhã, camaradas!». Procedeu-se à rápida desconstrução, com a ajuda dos delegados, da exemplarmente organizada sala de reuniões, vermelha e azul, que serviu de cenário aos três dias de trabalhos.
A manhã mais longa
Terá porventura sido também uma longa manhã para muitos dos delegados e militantes presentes. O ambiente, também ele, era nitidamente diferente do dos dias anteriores. A aprovação das teses ficou marcada por várias intervenções, a pedir a continuação do debate ideológico, e por divergências sobre o conceito de homossexualidade contido no documento.
Vários participantes subiram à tribuna antes da votação para defender a continuação do debate sobre a democracia interna do partido depois do Congresso. Uma das propostas de alteração que não foi aceite previa a realização de seminários no início do ano onde o assunto pudesse voltar a ser abordado.
Os 45 militantes que se abstiveram na aprovação das teses e os 29 que votaram contra foram alvo de apupos e assobios por parte dos convidados nas galerias. Entre os militantes que se manifestaram contra a simples gramática do texto aprovado e os que não viram aceites as alterações de fundo propostas, destacaram-se a deputada Odete Santos, que contestou a parte dedicada à homossexualidade.
«A homossexualidade não deve ser referida como opção mas como apenas como orientação», já que «a orientação sexual não é uma escolha livre, mas antes condicionada pela educação, muitas vezes repressiva dada às crianças» explicou.
Por parte da comissão de redacção das teses, Domingos Abrantes disse que a expressão «opção» seria mantida. Mas o assunto acendeu uma participada discussão à volta da sexualidade provocando algum mal-estar. As teses sofreram 73 emendas e nenhuma alterou as ideias principais do documento.
Apresentado o novo Comité Central, Comissão Política e Secretariado, em ambiente festivo, de orgulho comunista, onde não faltavam as bandeiras vermelhas a esvoaçar, começavam as despedidas.
Em direcção aos autocarros, à porta do Pavilhão Atlântico, muitos «camaradas», agarrados «ao sonho que comanda a vida» regressam a casa levando o coração aquecido com mais um encontro da família política mais antiga de Portugal.