A «averiguação» ordenada pelo Governo à actuação da PSP e PJ à saída do Tribunal de Setúbal do assaltante de uma agência bancária, a 06 de Outubro passado, rejeita a ideia de uma «guerra» entre polícias.
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Uma nota conjunta enviada esta sexta-feira à comunicação social pelos gabinetes dos ministros de Estado e da Administração Interna, António Costa, e da Justiça, Alberto Costa, que ordenaram no dia 09 de Outubro a «averiguação» em causa, indica que não se verificou qualquer «guerra» entre polícias.
«Durante todo o dia» 06 de Outubro «as relações entre os elementos da PSP e da PJ presentes no Tribunal Judicial de Setúbal pautaram-se pela cordialidade e por um espírito de colaboração», adianta o comunicado.
«Dentro desse espírito, os inspectores da PJ solicitaram aos elementos da PSP a colaboração para facilitar a saída do Tribunal com o arguido, em condições de segurança e discrição, de acordo com as instruções que tinham, o que se mostrava dificultado pela presença, às portas do Tribunal, de um número considerável de populares e jornalistas», acrescenta.
Para contornar esta situação, adianta a nota, «os elementos da PSP levaram a cabo uma manobra, envolvendo a simulação da saída do arguido, que se revelou adequada ao efeito pretendido, tendo efectivamente permitido que os
inspectores da PJ e o arguido saíssem do Tribunal em segurança e com discrição».
«Não foi possível apurar com toda a segurança se essa manobra em concreto foi expressamente solicitada pelos inspectores da PJ; mas ainda que não o tenha sido, tiveram a clara percepção de que a mesma ia ser realizada nos termos em que o foi, e não só não se opuseram como a aceitaram implicitamente, facilitando a sua execução», segundo o mesmo relatório.
«Ainda que porventura assim não tivesse sido solicitada, como foi, a colaboração da PSP, cabia a esta decidir o tipo de manobra a realizar, uma vez que estava em a utilização dos seus meios materiais e humanos», concluíram igualmente a Inspecção-Geral da Administração Interna e a Inspecção-Geral dos Serviços da Justiça, a quem coube realizar a «averiguação» em causa.
Neste contexto, «não há quaisquer elementos que permitam concluir que a manobra realizada resultou de um desejo de protagonismo por parte da PSP, e muito menos que se insere numa qualquer 'guerra de polícias', sendo antes, pelo contrário, fruto de uma normal e desejável cooperação entre as forças policiais», assinala a nota governamental.
«Os reportes às hierarquias, realizadas posteriormente aos factos daquele dia, quer por elementos da PSP quer, talvez de uma forma mais evidente, pelos inspectores da PJ, permitiram, ou pelo menos não foram de molde a impedir claramente, o surgimento de versões contraditórias», concluiu a mesma «averiguação».
«O tratamento da informação assim recebida" - lê-se também no documento - «por parte das hierarquias e sua divulgação aos meios de comunicação social empolou a situação e potenciou as contradições semânticas e de pormenor, em detrimento da cooperação que efectivamente se verificou na base».
Alguns órgãos de comunicação social referiram-se a «relações tensas» entre a PJ e a PSP de Setúbal desde 04 de Outubro, dia em que um homem de 57 anos assaltou uma agência local do Banco Espírito Santo (BES) e manteve quatro reféns durante várias horas.