O Banco de Portugal conhecia as operações de financiamento da compra de acções do BCP por "off-shores" detidos por accionistas, noticia o Jornal de Negócios e o Público. Vitor Constâncio deverá falar esta sexta-feira sobre alguns destes casos no Parlamento.
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O Banco de Portugal tinha conhecimento desde 2001 das operações de compra de acções do BCP por "off-shores" de accionistas e que a situação foi acompanhada pelo então vice-governador do banco central, António Marta.
Segundo o Jornal de Negócios e o Público, a correspondência entre as duas instituições termina com este vice-governador, que tinha o pelouro da supervisão até há dois anos, a ordenar à administração liderada por Jardim Gonçalves a correcção deste problema.
O BCP terá corrigido estas situações que foram então consideradas irregulares e foi informado numa carta datada de 5 de Janeiro de 2004, assinada por António Marta, que não seria alvo de coimas por causa desta situação.
Contudo, quando começou a crise no banco privado, o Banco de Portugal recomendou que os administradores que se encontravam em funções desde 1999 não fossem reconduzidos.
António Marta explicou mais tarde que esta recomendação tinha por base factos relacionados com 17 entidades "off-shore" cuja natureza e actividade foram ocultadas pelo BCP ao Banco de Portugal.
Segundo o Público, as explicações que o governador do Banco de Portugal deverá dar esta sexta-feira no Parlamento deverão centrar-se nos "off-shores" detidos por três clientes.
Ainda de acordo com este jornal, Vitor Constâncio admitirá que estes clientes terão servido de "testas de ferro" do BCP durante bastante tempo, ao adquirem acções de banco privado com crédito concedido pelo próprio BCP.
Entre estas entidades estarão "holdings" controladas por empresários como Bernardino Gomes (já falecido), pelo presidente da Reditus, Frederico Moreira Rato, e por Ilídio Monteiro.
De acordo com o Público, estes clientes teriam uma relação especial, histórica ou familiar com o BCP, tendo o banco privado alegado que não forneceu estas informações ao Banco de Portugal por estas sociedades terem proprietários devidamente identificados e não estarem nos órgãos do BCP.
O PSD não exclui a hipótese de vir a constituir uma comissão parlamentar de inquérito a propósito desta questão que será discutida esta sexta-feira na Comissão Parlamentar de Orçamento e Finanças, onde Vítor Constâncio será ouvido.