O bastonário da Ordem dos Médicos entende que é ilegal proibir os médicos do sistema público de exercer cargos de coordenação e direcção no privado, como determina um despacho do Ministério da Saúde. A Associação dos Administradores Hospitalares concorda com a medida de Correia de Campos.
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O bastonário da Ordem dos Médicos considera ilegal o despacho do Ministério de Saúde que impede os profissionais de Serviço Nacional de Saúde de exercer cargos de coordenação e direcção em instituições privadas.
Em declarações à TSF, Pedro Nunes entende que esta medida é um convite a que os bons médicos abandonem o sistema público de saúde e recorda que a legislação existente assegura o direito de os médicos trabalharem no público e privado.
«Não me parece que o ministro possa contrariar um decreto-lei. De qualquer forma, a verdade é que quando se proíbe alguém de trabalhar fora do Sistema Nacional de Saúde e, em contrapartida, se dão tão más condições neste sistema é um convite para que os médicos mais diferenciados abandonem o SNS», acrescentou.
Pedro Nunes sublinhou ainda que existe um «risco real» de este abandono se verificar perante atitudes do Ministério da Saúde que considerou serem de «alguma arrogância e alguma insensibilidade».
«Arriscamo-nos a criar um serviço público para os pobres, onde não ficarão os melhores, e todos os que tenham oportunidade irão para o privado», concluiu o responsável máximo da Ordem dos Médicos.
Por seu turno, o presidente da Associação dos Administradores Hospitalares está de acordo com a decisão de Correia de Campos, apesar de concordar que alguns bons médicos irão passar em definitivo para o privado.
«Não se pode manter este regime actual de trabalhar num sítio de manhã e noutro à tarde com características completamente diferentes e evidentemente que o sector público sofre as consequências do modelo que temos», explicou Manuel Delgado.
Este responsável considera que o actual sistema reflecte-se numa ineficiência grande, sendo os recursos clínicos e técnicos muito caros e não suficientemente bem aproveitados.
Após uma conversa com directores de vários hospitais, Correia de Campos decidiu-se por esta proibição, por entender que a actual situação pode «comprometer a isenção e a imparcialidade» desses profissionais «com o consequente risco de prejuízo efectivo para o interesse público».