A data inicial para a cerimónia oficial de abertura estava marcada para 23 de Abril, mas o conflito no Médio Oriente levou a que o evento fosse adiado. Agora, a Biblioteca de Alexandria vai abrir oficialmente, após dois mil anos de cinzas.
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A Biblioteca de Alexandria foi construída pela primeira vez durante o reinado do faraó Ptolomeu I (300 A.C.), que pretendia transformar o Egipto num centro mundial cultural. De imediato, Demétrio de Falera e Eudóxio começaram a recolher livros para aquela que viria a ser uma das maiores e mais famosas bibliotecas de todos os tempos.
Mas o sonho transformou-se em pesadelo: ao longo dos tempos, a Biblioteca foi alvo de vários incêndios e tentativas de destruição. Agora, o esplendor voltou a nascer das cinzas, dois mil anos após o seu desaparecimento.
Os objectivos continuam a ser os mesmos, apenas adaptados ao presente: uma biblioteca como ponto de encontro de culturas, povos e nações. Em declarações à TSF, Richard Holmquist, da unidade de projectos especiais da UNESCO, lembrou «já a antiga biblioteca fazia a ligação entre diferentes povos e diferentes culturas».
E como é que essa unificação de culturas pode ser feita? «É um projecto de grande envergadura. Para além da beleza arquitectónica, a Biblioteca reúne informações de todo o mundo», explicou Holmquist.
O conflito no Médio Oriente já obrigou a que a cerimónia oficial fosse adiada, de 23 de Abril para 16 de Outubro, mas essa questão já não parece preocupar os responsáveis. «Tal construção representa esperança, paz, harmonia. É uma instituição que junta civilizações que pode até ajudar ao desenvolvimento económico e social da região», disse a mesma fonte da UNESCO.
A cerimónia oficial de abertura vai incluir um concerto e um discurso oficial do presidente egípcio, Hosni Mubarak. Entre os 800 convidados estrangeiros presentes vão estar vários chefes de Estado e outros dignitários de vários países.
A preseça de tantos ilustres obrigou ao reforço das medidas de segurança no país, nomeadamente com a proclamação do estado de emergência no aeroporto do Cairo
Dois mil anos de cinzas
A ideia para a reconstrução da Biblioteca de Alexandria surgiu em meados dos anos 80, e partiu em grande parte do Egipto, nomeadamente da Universidade de Alexandria. O projecto mereceu de imediato o apoio da UNESCO.
Hoje, a biblioteca está aberta ao público em geral, a investigadores e turistas. A entrada continua a ser grátis, mas a organização está a pensar em cobrar uma quantia «meramente simbólica», algo que ainda está em discussão.
O edifício de 11 andares divide-se em várias bibliotecas: a Biblioteca Principal, a Biblioteca Taha Hussein (para invisuais, a Biblioteca dos Jovens (dos 12 aos 18 anos), a Biblioteca das Crianças (dos seis aos 12 anos), a Biblioteca de Audiovisual, Multimédia e Música, a Sala de Leitura de Microfilmes, a Sala de Leitura de Manuscritos e a Sala de Leitura de Livros Raros (estas duas reservadas apenas a investigadores pós-graduados).
No total, a Biblioteca abre com 240 mil volumes, mesmo assim muito abaixo dos oito milhões previstos há cinco anos. O material inclui 50 mil mapas, cem mil manuscritos, cem CD-ROM, dez mil livros raros, entre outros documentos. O edifício alberga também um Centro de Conferências, o Museu da Ciência e o Planetário.
Com esta dimensão, é de esperar que dentro em breve a Biblioteca de Alexandria seja o próximo exemplo de Património Mundial. Sobre este assunto, Richard Holmquist disse que a Biblioteca «já reuniu apoios de vários países e penso que, assim que estiver aberta ao público, vai reunir mais apoios».