O Grande Auditório da Fundação Calouste Gulbenkian voltou a encher para receber o primeiro espectáculo da temporada. Em destaque estava «Charmes», de Cesc Gelabert, mas o mais aplaudido foi «Cantata», de Mauro Bigonzetti.
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Aparentemente sem grandes novidades, o espectáculo começou com «Prumo», de Henrique Rodovalho. No entanto, esta não é uma peça que baste ver uma vez, visto que as diferentes interpretações surgem em catadupa, cada uma mais profunda do que a outra.
«Prumo» não tem por objectivo contar uma história, fala apenas de «imagens, situações e pessoas que aparecem e depois se dissolvem», como já havia dito o autor em declarações à TSF.
«Até que ponto é bom estar no prumo?». É esta a pergunta que Henrique Rodovalho deixa no ar, ao som da música de Hendrik Lorenz.
Os loucos anos 20
Em estreia nacional seguiu-se o «cabeça de cartaz», o catalão Cesc Gelabert com «Charmes», uma peça situada algures nos «loucos anos 20», onde circulam personagens, todas elas a mostrar o júbilo e a decadência dos excessos da época.
O cenário, uma imagem de Paris invertida, construída a partir do tecto, transporta o espectador para um espaço mágico, no qual a noção de tempo e espaço deixa de fazer sentido.
«Cantata» lusa
Mas a grande ovação foi para «Cantata», do italiano Mauro Bigonzetti. Em palco, para além dos bailarinos, estavam as cantoras italianas do grupo AS.SUR.D (Cristina Vetrone, Lorella Monti, Enza Prestia e Enza Pagliara).
A peça mostra os contrastes do campo, ao som de músicas tradicionais napolitanas, que deixam passar uma mistura de beleza e dureza, enquanto que os movimentos dos bailarinos oscilam entre o entusiasmo e o sofrimento.
«Cantata» é uma peça italiana, cantada em italiano, com «paisagens» italianas, que bem podia representar uma cena dos campos portugueses. Tal como Michel Giacometti fez ao recolher sons de música de tradição oral, em Portugal.
A recepção não podia ser melhor. Mesmo antes de terminar o espectáculo, o Grande Auditório encheu-se com uma enorme salva de palmas, terminando momentos mais tarde com o público a aplaudir de pé, em jeito de agradecimento.